tag:blogger.com,1999:blog-52347319314749601562024-03-14T02:15:36.442-03:00O que Luma pensa?Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.comBlogger159125tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-45200181902060813902016-08-27T19:38:00.000-03:002016-08-27T19:38:11.493-03:00Foi em 2002A primeira vez em que eu ouvi falar em Complexo do Alemão foi em 2002. Eu tinha 9 anos.<br />
A gente estava na 3a série e no noticiário sempre passava que um jornalista tava desaparecido. O nome dele era Tim Lopes. Estávamos as vésperas da Copa do Mundo de 2002, que ia ser no Japão e Coreia do Sul e os jogos seriam transmitidos de madrugada. Estávamos passando por uma epidemia de dengue no Rio, a maior até então. Eram esses os três assuntos do Jornal Nacional.<br />
1. Tim Lopes desaparecido<br />
2. Dengue assolando o Rio de Janeiro<br />
3. A Copa do Mundo chegando.<br />
<br />
A segunda vez em que o Complexo do Alemão me chamou a atenção foi em novembro de 2010. Final de novembro. Época do meu aniversário de 18 anos. Eu estava prestando vestibular. Mas no telejornal só mostravam carros queimados no Rio de Janeiro. Um dos meus professores do meu colégio em Niterói disse que os pais dos seus alunos na Barra da Tijuca estavam assustados de deixar os adolescentes prestarem vestibular em provas nos bairros "perigosos". Finzinho de novembro. A cena da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro se repetia na TV. Se repetia o tempo inteiro.<br />
<br />
A primeira vez em que a médica Zilda Arns me chamou a atenção foi em janeiro de 2010. Sim, quando ela morreu. Eu já tinha visto Zilda Arns na TV algumas vezes, sabia que ela era a "senhorinha da Pastoral da Criança", aquela instituição cuja propaganda pesava as crianças em balanças que pareciam umas fradas-balanço. Mas eu nunca tinha prestado muita atenção. Foi quando Zilda Arns, pediatra, morreu no terremoto que destruiu o Haiti em 2010, que eu prestei mais atenção naquela mulher.<br />
<br />
No começo do ano passado, eu estava no meu quarto da casa da família Mejía, no bairro simples de Independencia, em Lima, capital do Peru quando me falaram que alguém fez uma lista não oficial dos aprovados no concurso de estágio remunerado da prefeitura do Rio e eu estaria aprovada. Só pensava no quanto aqueles 550,00 seriam bem vindos pra pagar as prestações dos vôos da Tam que me levaram a meu intercambio.<br />
E foi pensando apenas no dinheiro, sim, no dinheiro mesmo, que dois meses depois eu estava na lotação dos estagiários numa sala grande e quente da Unigranrio da Lapa.<br />
Eu só queria uma clínica de fácil acesso da república pra onde eu tinha acabado de me mudar, dividindo a casa com mais 7 meninas, na Cidade Universitária. Eu tinha acabado de sair de casa e tinha que me virar no máximo de estágios e monitorias para pagar minhas despesas.<br />
As clínicas que eu conhecia foram se esgotando e não sobrava mais vaga pra mim.<br />
<br />
Uma colega de turma, a Thaís, me passou a lista de preferencias dela. Super antenada em medicina de família e comunidade, Thaís foi me explicando os pontos positivos e negativos de cada clínica. Thaís escolheu a clínica dela, na Ilha do Governador. Eu fiquei com a lista dela, esperando ser chamada para escolher. Da lista de Thaís só restava uma clínica na minha vez. A Clínica da Família Zilda Arns, no Complexo do Alemão.<br />
A clínica que tinha o nome da senhorinha da Pastoral. Que ficava onde mataram o tal do Tim Lopes.<br />
<br />
Na CFZA eu me tornei outra Luma. Se eu fui pra lá contando com 550,00 de bolsa, lá eu recebi coisas que nenhum dinheiro do mundo pagaria. Trabalhei com profissionais maravilhosos. Os funcionarios da limpeza, os funcionários da administração, os enfermeiros, os dentistas, os médicos, os agentes de saúde, os tecnicos, até o pessoal da informatica que vinha consertar o computador quando dava ruim.<br />
<br />
Eu não cresci e surgi como médica. Eu cresci como gente. A CFZA mudou a minha vida como um todo. Porque uma coisa é você ser pobre. Outra coisa é você ser pobre, favelado, vítima de violência, marginalizado mesmo. Porque o Complexo tá cheio de gente que faz das tripas o coração pra viver melhor e não consegue.<br />
<br />
Na entrada da Clínica existe uma placa atualizada mensalmente sobre as estatisticas da população atendida. 37,6% dos adultos são analfabetos. 37,6%. <b>37,6% dos maiores de 15 anos são analfabetos</b>. Em pleno Rio de Janeiro. Em 2016.<br />
A coisa é muito séria, galera É séria pra caramba.<br />
<br />
Há alguns meses eu tomei a decisão de sair de lá, após 1 ano e meio de estágio. Um lugar onde eu trabalharia até de graça. Um lugar onde eu pensava em passar o resto da vida. A violência crescente dos últimos meses (porque se você acha que não teve terrorismo nas olimpiadas tá desinformado, teve muito e tá tendo ainda - a diferença é que ele não é praticado pelo Estado Islamico) me sufocou de um modo que não deu mais.<br />
Depois que vivenciei um tiroteio e ouvi tiros do meu ladinho, que eu me joguei no chão e que vi escorrer sangue de gente inocente, que só tava passando na rua, minha vida mudou.<br />
Eu virei um dos meus pacientes. Eu sentia tanto medo quanto eles. E cada vez que eu ouço as histórias, tão frequentes, de violencia, eu vivencio de novo. Essa semana, troquei meu campus de estágio. Com um aperto no coração que não dá pra explicar. Mas eu preciso tentar cuidar de mim.<br />
<br />
Mas o que a CFZA fez comigo tá comigo em tudo o que eu faço. A atitude da Ariadne, as good vibes do João Pedro e da Luiza, as brincadeiras da Betina, as trocas de olhares e telepatia com a Tainá, a Mari Eccard e a Cíntia, as histórias de chorar de rir da Kássia, a sensibilidade da Lia, a vontade de ensinar do Roberto, do Eji e do Humberto, o cuidado com os pacientes do Hugo, a elegância da Mari Zau, as mordeduras de cão dos pacientes do Ricardo, Os almoços na laje, os cafés na padaria, os biscoitos feitos pela esposa do seu Jailton. São coisas que faz de mim a Luma que sou. As histórias de fibra e abraços calorosos de pessoas incriveis, como a Cris e a Cristina, a admiração pela inteligencia da Helena(que com 10 anos tem que saber tudo de todas as doenças, porque vai ser médica quando crescer e médico tem que saber de tudo), os sonhos do Lucas, a disposição da Lene. O bom humor dos profissionais da educação física. Aprender a ler os textos super bem feitos pelos meninos da Voz da Comunidade. Cara, vocês mudaram a minha vida.<br />
<br />
Vocês mudaram de um jeito que não dá pra explicar.<br />
<br />
Não sei como que faz pra agradecer tudo a todo mundo, mas foi tudo cheio de muita emoção. Cheio de risos, choros, alegrias tristezas, surpresas boas e ruins. Foi tudo cheio de muita emoção.<br />
Tudo o que eu vivi ali, naquela clínica que tem o nome da "senhorinha pediatra da Pastoral" e que fica perto do colégio que tem o nome do "jornalista que foi assassinado", foi de uma intensidade indescritivel.<br />
Deus foi muito generoso comigo de me proporcionar tê-los na minha vida.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-CX9WhXtxrO8/V8IV_NT9VrI/AAAAAAAAA10/iRlDKAziPX0HHRSzinf03T5YkO4h1OsBwCLcB/s1600/20160327_130642.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-CX9WhXtxrO8/V8IV_NT9VrI/AAAAAAAAA10/iRlDKAziPX0HHRSzinf03T5YkO4h1OsBwCLcB/s320/20160327_130642.jpg" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">lista de escolhas da Thais em março de 2015, que me levou a tomar uma das melhores decisões da minha vida, e que eu guardei de recordação.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<br />
<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-60917518832217484022016-08-12T22:03:00.001-03:002016-08-14T20:13:39.441-03:00Frases dos ultimos dias- A senhora toma algum remédio todo dia?<br />
- Tomo rivotril e escitalopram.<br />
- Desde quando?<br />
- Ah, já tem uns 5 anos. Desde que meu marido começou a beber. Ele fica agressivo.<br />
- Ele já bateu em você?<br />
- Uma vez, aí eu chamei a policia e ele disse que não ia bater mais. Mas já colocou fogo nas minhas roupas, quebrou minha geladeira, jogou a nossa TV fora.<br />
<br />
- A senhora anda muito ansiosa?<br />
- E tem como não ficar? Entraram na minha cassa para trocar tiros da laje. Mas pelo menos dessa vez eles pediram. Na ultima vez nem isso, foram entrando.<br />
<br />
- O senhor se considera nervoso?<br />
- Um pouco, mas agora tô mais. É muito tiro, doutora, é muito tiro. Nem saio mais de casa.<br />
<br />
- A senhora tem diabetes. Tem que comer pouco açúcar, pouca massa, pouco pão...<br />
- Pão não to comendo direito. Teve tanto tiroteio essa semana que fiquei uma semana sem sair de casa, tava com medo de ir na padaria comprar pão. Comi o que já tinha no armário.<br />
<br />
- Doutora, tenho que subir logo, antes que comecem os tiros.<br />
- Tá muito ruim lá, né?<br />
- Nossa, muita coisa. Muito pior do que já foi. Eu quero fechar minha janela, mas não posso, porque senão vão vir implicar comigo o porquê de estar fechando a janela. Mas eu fico preocupada, porque eu sei que ficam olhando minha irmã de 13 anos. Não deixo mais ela sair sozinha pra lugar nenhum,<br />
<br />
- Você tem outros filhos além do neném que está aí na barriga?<br />
- Tenho, mas moram com o pai.<br />
- E você, mora com quem?<br />
- Moro sozinha. O pai desse neném foi embora.<br />
- E você já pensou em quem vai te ajudar a cuidar do neném pra você trabalhar?<br />
- Não sei como vai ser. Porque eu trabalho no (marca de fast food) e só ganho 700 reais. Ainda pago aluguel. E uma pessoa pra ficar com o neném é pelo menos 350.<br />
<br />
- Então, eu perdi 40 quilos com essa doença. O médico me falou que não tem mais tratamento pra mim, eu pareço um zumbi. Passei de 80kg pra 40kg. Encontra uma cura pra mim. Descobre uma cura. Você é tão novinha. Por favor. Eu só tenho 49 anos e minha família precisa de mim. Eu não posso morrer agora.<br />
<br />
- O senhor já foi alguma vez na clínica da familia perto da sua casa?<br />
- Não, lá eu tenho medo de ir. Lá tem muito tiro. Lá na clínica eu não vou não.<br />
<br />
- Lá em Recife não era perigoso assim não. Aqui atiram na gente por qualquer coisa. Meu irmão veio me visitar e eu falei pra ele parar de carregar a bíblia pra ir pra igreja. Vai que confundem e pensam que ele tá segurando uma arma?<br />
<br />
<br />
O coração da menina empática demais tá congesto de tanta tristeza.<br />
<br />
<br />
<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-85860820888163164792016-07-30T15:59:00.002-03:002016-07-30T15:59:34.186-03:00A expessão "7 a 1" foi a melhor coisa que alguém poderia nos deixar<span style="color: #0b5394;">"mãe, e seu eu voltasse a escrever?"</span><div>
<span style="color: #0b5394;">"tenta, vai que te faz bem."</span></div>
<div>
<span style="color: #0b5394;"><br /></span></div>
<div>
<span style="color: #0b5394;">Então eu quis escrever, eu quis falar. Não sei por quanto tempo, não sei se alguém vai ver. Mas sabe como é, muita coisa já mudou desde 2009 (quando comecei a escrever), mas a vontade de falar não.</span></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Enquanto atravesso a Ponte, me lembro de terem parado o
teleferico ontem. Mando mensagem pro grupo da equipe no wpp. Pergunto como
estão as coisas e me dizem que embora esteja perigoso no territorio, está
tranquilo no entorno da unidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Da saída da linha amarela até a clinica sinto o clima
estranho. O teleférico está parado. As pessoas nos pontos de onibus estão mais
impacientes que nos outros dias. As pessoas andam mais rapido nas ruas.
Tá...estranho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Desço do onibus e vou até a clinica olhando para todos os
lados. Penso onde eu me esconderia se me começasse um tiroteio. Já fiz o mapa
dos lugares. A escola publica que esta com o portão aberto, a banca de jornal,
a guarita do condominio e a barraca de tapioca. Ando rapido até a clínica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Chego e encontro os agentes de saúde e a enfermeira
preocupados em uma sala. Eles todos olham pra mim e falam "tadinha, ela
chegou logo quando a gente tá falando disso", considerando meu historico
em me assustar com tudo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Estavam preocupados que precisavam levar remédio para uma
paciente, mas estava tendo tiroteio lá perto. Ela é psiquiatrica e precisava
muito do remédio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Vou atender em outra sala. Atendo um rapaz que está com uma
bala alojada nas costas. a bala está ali há cerca de dois anos e o cirurgião
que o atendeu naquela epoca lhe disse que um dia seu corpo iria expulsar o
projetil. E expulsou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Vou na outra sala conversar com um dos médicos da unidade
sobre outro paciente. Chego lá e a paciente que ele atende fala pra nós
"Não tem como eu abaixar a pressão assim, tão apontando fuzil do lado da
minha casa, moro em beco(...) Minha filha trabalha num lugar onde estão
atirando direto, as paredes tão todas furadas. Ela pode ir trabalhar e não
voltar."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Volto pra minha sala e a paciente que eu atendia me fala que
tá com medo de voltar pra casa, devido os tiros diários que tem ocorrido. Falo
pra ela ligar pra quem está em casa antes de subir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Chamo o proximo paciente, que me fala que só quer remédio
pra dor. Tento explorar sua dor, a historia dela. Ele me conta, mas diz que só
quer remédio, porque ele já foi muito iludido. Foi demitido após um acidente de
trabalho e foi em várias consultas particulares e fez vários exames pagos,
gastou toda sua poupança tentando mostrar a deformidade que o acidente lhe
causou e se encostar pelo INSS. Peço pra ele trazer tudo o que tem de exames na
proxima semana, que quero ajuda-lo nisso. Ele recusa. diz que já foi muito
chateado, ele só quer um remédio pra dor. Me diz que o SUS só funciona pra
"quem tem sorte ou então quem conhece alguém lá dentro" Deixo a sala
e converso com a melhor equipe de Saúde da Família do mundo (sim, a melhor, e ai
que orgulho disso) e decidimos passar um antidepressivo com efeito analgésico e
chamo meu preceptor pra conversar com
ele. O paciente finalmente é convencido de que queremos ajudá-lo. Aceita vir na
proxima semana com seus exames e documentos, explicamos que ele pode fazer
fisioterapia, exames e ter um parecer de especialista pelo SUS, sem pagar nada.
Explicamos que ele não tem que pagar nada. Acho que agora ele vai "ter
sorte".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Após mais alguns atendimentos, vou almoçar. Na copa da
unidade, converso com alguns funcionarios da clinica sobre como a violencia tem
me atingido e que desde que passei por um tiroteio, há pouco mais de um mês,
não me sinto a mesma. Uma funcionaria me
fala que realmente eu estou diferente. Que eu falo de tudo com medo. Uma agente
de saúde do meu lado me disse que ela também já ficou assustada como eu. Me
disse que ficou assustada depois que foi atingida por uma bala perdida aos 15
anos, voltando de seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz. Ela nos conta muita
coisa. Sobre como a mãe dela discutiu com os policiais no hospital que ela era
"trabalhadora" enquanto ela recebia o pronto atendimento dos médicos.
Em seguida uma funcionaria do administrativo nos conta sobre como ela e o
esposo foram assaltados e tiveram o carro levado pelos bandidos, e que tudo o
que ela fazia na noite chuvosa era apertar o rosto do filho contra seu peito,
para que ele não visse os assaltantes armados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Após o almoço atendo mais alguns pacientes, e quase todos
estão preocupados em voltar pra casa. Atendo um senhor de idade que me conta
que não pode fazer exame de sangue dele nem da mulher. Sua esposa é debilitada
e os técnicos estão evitando ir até a comunidade colher sangue, devido os
tiroteios. Do mesmo modo, ele tem medo de ambos descerem e o tiroteio começar
no caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">À noite, volto para casa e vejo o teleferico rodando outra
vez. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Chego em casa, as 21h, e minha mãe me conta que na rua do
trabalho de uma amiga sua um homem foi espancado até a morte as 10 horas da
manhã, na frente de todo mundo. Espancado até a morte. E que ela nunca mais ia
esquecer do que acabou vendo. Minha mãe me conta que fizeram vários assaltos na
rua em que ela trabalha naquele mesmo dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Me lembro sobre como todos noticiam que os assaltos a onibus
onde minha mãe mora acontecem quase que diariamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Ligo a TV e a notícia é clima olimpico. Clima de festa. Que
o Rio de Janeiro está feliz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Mas aqui na periferia o clima não é de Olimpíada, o clima é
de Copa. O clima é de 7 a 1 todo dia.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div>
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div>
<br /></div>
Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-1812532491518118892014-12-28T13:08:00.001-02:002014-12-28T13:21:40.572-02:00Pode ser que você precise de muito. Pode ser que não.Nunca tantos objetivos foram realizados na minha vida como em 2014.<br />
Na verdade, não lembro de nenhum outro ano em que tanta coisa tenha acontecido, pelo menos que tenha acontecido porque eu fiz com que acontecesse. Não tive nenhuma grande sorte inesperada, mas consegui fazer tudo o que eu queria e mais um pouco. Não, não tive mais dinheiro nem mais tempo livre que em 2013. Apenas tive mais vontade de parar de falar e fazer. Mais vontade de ser feliz.<br />
<br />
É instigante essa coisa de como fazer pra ser feliz. Dia desses eu estava almoçando com o pessoal do estágio, era um domingo de sol e a gente estava num restaurante perto do hospital. A gente falava de trabalhar demais e tal. Desde que entrei na faculdade, sempre levantei a bandeira de que não devemos trabalhar demais. E ainda continuo fazendo isso. Mas é complicado das pessoas entenderem. Às vezes eu mesma me pergunto se eu não estou errada por isso.<br />
<br />
Mas agora tenho pensado que o que faz a gente feliz é algo muito particular. Meus melhores momentos são conversando com meus amigos enquanto tomo chá gelado ou então assistindo séries com meu irmão. Nada que me custe muito dinheiro. Outro dia abri meu armário e me dei conta de que não preciso de nada. Quando passo em frente as vitrines vejo várias coisas que quero comprar. Mas lembro que não preciso de nada daquilo e volto pra casa. Creio que assim vou me adaptando ao que me faz feliz e aprendendo a administrar minha vida com pouco. Descobri que tenho outras coisas que eu preciso mais, como viajar, fazer atividade física e rir cada dia mais.<br />
<br />
Tudo o que eu não tive em 2014 foi pressa. Me inscrevi no Ciencias Sem Fronteiras e desisti. Não pela pressa de me formar, como meus colegas sempre dizem. Mas porque o que eu quero agora é estar aqui, com as pessoas que eu gosto.<br />
<br />
Juntei dinheiro o ano inteiro para viajar e no primeiro dia de 2015 vou sair do país pela primeira vez(na verdade, vou pegar um avião pela primeira vez, olha que pobreza!). Esse é o tipo de coisa que eu estou precisando. Não de roupa, sapato, comida de restaurante. Mas de conhecer outros lugares do mundo.<br />
<br />
Essa vontade que me deu de viajar em 2014 só me fez bem. Na minha família nunca ninguém viaja, então imaginem como foi pro meu pai, super cabeça dura, tentar entender essa minha vontade! Graças as ideias de viajar, fiz curso de ingles, de espanhol. Não sei o que mais quero continuar aprendendo em 2015. Vou ir descobrindo.<br />
<br />
Descobri o prazer de fazer atividade física(que me fizeram perder 6 quilos e aumentar muito minha autoestima, rs), finalmente terminei o romance que havia escrito aos 16 anos e estava sem final porque eu não tinha coragem de dar um fim (sim, em 2015 sem falta eu tomo vergonha na cara para registrar e tentar publicar), comi menos doces, e aprendi a comer um monte de legumes e frutas que não comia antes!<br />
<br />
Para nada disso eu gastei muito tempo ou dinheiro. Em 2014 tive bem menos dinheiro que em 2015. Na verdade, esse é o objetivo desse post. Mostrar que nem todo mundo precisa de muito. Talvez, você que está lendo, precise. E está tudo bem. Mas se não precisar, vai ser melhor ainda.<br />
<br />
<img alt="http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos-e-gaianos/files/2013/02/formigas.jpg" class="decoded" src="http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos-e-gaianos/files/2013/02/formigas.jpg" /> Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-55431285361558045392014-11-05T20:19:00.002-02:002014-11-05T20:20:53.458-02:00Tinha um livro no meio do caminhoEstava no ponto de onibus voltando pra casa.<br />
Um cara de mais ou menos uns 50 anos me pergunta se o 484 para ali. Eu respondo que provavelmente sim, porque um outro onibus da mesma empresa acabou de parar. Ele olha para o livro que seguro (um livro preparatório pro TOEFL - que para quem não conhece é uma prova de proeficiencia em ingles) e fala: "Do you speak english?"<br />
" A little", respondo. Ele pergunta se vou fazer o TOEFL. Respondo que o livro era de uma amiga e que o tinha emprestado a outro colega.<br />
Mesmo comigo falando em portugues, ele insiste em falar em ingles.<br />
Traduzindo basicamente, ele me conta sobre uma ONG de doação mútua de livros. Quando começa a falar, chega meu onibus.<br />
"Tenho que ir, meu onibus chegou"<br />
"Ei, espera, toma esse livro aqui de presente pra você."<br />
E foi assim que eu ganhei um livro no caminho para casa.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-aN2z3A4OqYk/VFqiO2nyspI/AAAAAAAAA00/_h_LwOGyc7M/s1600/CAM00620%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-aN2z3A4OqYk/VFqiO2nyspI/AAAAAAAAA00/_h_LwOGyc7M/s1600/CAM00620%5B1%5D.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-78613518725553204652014-09-06T21:48:00.002-03:002014-09-06T21:54:40.599-03:00Clube das Quatro-horasSexta feira, 17:00.<br />
<br />
Saio do curso de Espanhol pensando na melhor forma de chegar em casa. mas não tinha. Fiquei 20 minutos esperando o onibus, que veio vazio. Ainda faltavam uns 50km pra chegar em casa. Ou mais. Fiquei com preguiça de ver no Google Maps.<br />
<br />
Ainda dentro do campus da UFRJ vejo muitos, muitos carros parados. Inocente, mal sabia que estava prestes a pegá-lo. Sim, o maior engarrafamento da minha vida. E pensar que estava de sapatilha sem meia-calça. Meu dorso do pé ia congelar no ar condicionado.<br />
<br />
Duas mulheres começam a falar de no banco de trás. Reclamar do trânsito. Que sempre tem.<br />
Uma terceira é incluída na conversa. Passa alguns minutos. E mais uma se inclui. Eu, claro. Porque eu falo pra caramba e não ia aguentar mais tantas horas no silencio até chegar em casa.<br />
<br />
Ao longo do assunto, Marileide comenta que não vai aguentar a fome até chegar em casa. "Tenho que comer de 3 em 3 horas. Eu fiz redução de estômago". Abre então a bolsa e tira um pacote de Nesfit. "Achei, achei! alguém, quer". Quero comentar que foi linda a felicidade em seu rosto.<br />
<br />
Então Pindanga diz: "Eu nunca pego esse ônibus. Nunca fui em Niterói. Peguei esse só pra descer na Av. Brasil mesmo. Mas esse ônibus pelo menos parece confortável."<br />
<br />
Eu e as outras duas passageiras rimos.<br />
" Você que pensa. Tem vezes que bate 5 graus celsius. E esse banco dá dor no cóccix". - digo.<br />
Porque dá mesmo. Muita dor. <br />
<br />
Já eram 18:00. A gente ainda não tinha saído do Fundão. Ouço mais do que falo. Mas se eu não me concentrasse na conversa a hora nunca que iria passar.<br />
<br />
Ambas começam a falar sobre o bairro em que moram, seus trabalhos, suas famílias. Só ouço.<br />
Mais ou menos durante esse momento entra um senhor de meia idade no onibus. ele come<br />
<br />
"Sério que você mora no Fantástico Mundo de Oz? Minha filha mora lá. O nome dela é Astrogilda, o marido dela é Nurialdo. Conhece?" - diz Carmelicia.<br />
Marileide responde: "Ele é filho de um senhorzinho, seu Ezi..Eli..Eizi... ah, não sei."<br />
Carmelicia: "Isso, seu Edizi.. não, Izeli... não... espera que vou lembrar".<br />
<br />
"Gente, é o mesmo, e esse aí" - se intromete Carlito, recém agregado ao grupo.<br />
Passam mais alguns minutos. As 19:00 finalmente chegamos na Avenida Brasil. Pindanga levanta.<br />
"Bem que você disse que o banco dói" - ela fala<br />
<br />
Entra um vendedor ambulante no onibus. TODOS OS PASSAGEIROS compram algo. Marileide compra dois pacotes e coloca na bolsa: "é sempre bom ter para alguma emergência". Em seguida tira uma selfie pra postar no Facebook.<br />
Eu falo: "Sério que você vai rir na selfie? Se vc quiser eu tiro uma foto sua com cara de derrota, vai ser mais condinzente com a situação."<br />
<br />
21:00. Subimos a ponte.<br />
<br />
"É seu Elísio!" - grita Carmelicia.<br />
<br />
Depois cada um desceu e pegou seu ônibus pra sua casa.<br />
<br />
<br />
p.s.: A história é toda verdade. Menos os nomes que possam comprometer a privacidade dos atores.<br />
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<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-33203723009708034532014-09-01T21:54:00.001-03:002014-09-01T21:54:32.965-03:00É que a minha mão tremeFinal da prova. <br /><br />
"Professor, vou tirar uma foto do cartão resposta pra conferir com o gabarito depois, tá?"<br /><br />
Ele faz que sim com a cabeça. Ele devia ter uns 70 anos.<br />Deixo o celular pertinho do papel e começo a fotografar.<br /><br />
"Por que você tira a foto tão de perto?"<br /><br />
"Ah, professor, é que minha mão treme. De pertinho a chance de erro é menor"<br /><br />
"E como você faz pra tirar selfie pra postar?"<br /><br />
"Então... eu não costumo tirar selfies."<br /><br />
"Logo porque sua mão treme? Vou te ensinar um truque. Você tem que ajustar a sua câmera pra tirar a foto bem rápido, antes que você trema. Entendeu?"<br />
<br />
"Ah, entendi. Obrigada"<br />
<br />
Não, eu não pretendo começar a tirar selfies da minha cara acordando, no onibus, na sala de aula, no hospital, jantando, nem nada do tipo. Na verdade eu não pretendo tirar selfie nenhuma. Todo o mundo já conhece a minha cara, minhas marquinhas de rosácea e meus cílios finos. Minha vontade de tirar selfie ou de criar um instagram são tão grandes quanto a minha vontade de comer rúcula. Mas eu queria que o coroa se sentisse útil e feliz, sabe como é.Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-64655459322116146962014-06-25T21:36:00.001-03:002014-06-25T21:36:50.996-03:00A sua caraEstava numa loja de roupas com Mariane dia desses. Vi uma camisa rosa florida com mangas.<br />
- Mari, eu sei que você vai dizer que é coisa de velha. Mas eu gostei. Vou experimentar.<br />
- Eu realmente acho horrível. Essa estampa é mesmo coisa de velha. Mas é a sua cara, experimenta!<br />
<br />
ah, e ficou horrorosa em mim, não comprei.Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-18487474556313035452014-06-17T15:58:00.000-03:002014-06-17T15:58:50.879-03:00Tenta ser leveNos últimos meses tenho me sentido mais leve.<br />
E não foram os 6 quilos que perdi DEPOIS que SAÍ da academia.<br />
É leve na cabeça mesmo.<br />
<br />
Chega um momento em que você percebe que está se preocupando com coisas tão bobas, mas tão bobas, que está perdendo a chance de aproveitar a melhor parte da vida. O caminho dos sonhos.<br />
<br />
Lembre-se dos seus sonhos 10 anos atrás. Provavelmente quase nada se realizou, né? E mesmo assim você está satisfeito com o que aconteceu, estou certa? Viram? A graça é o caminho. A graça é as histórias que você fez. Daqui a 10 anos não vai fazer diferença o quê você almoçou hoje, mas as pessoas com quem você conversava durante o almoço. Não vai fazer diferença se você passou com 6,0 ou com 9,0. Vai fazer diferença sua consciência tranquila porque você fez o seu melhor. Talvez esse último exemplo não tenha nada a ver. Mas se eu fosse enumerar a quantidade de críticas que ouvi nos últimos tempos porque não estava me estressando o suficiente com a faculdade, a minha tecla enter ia ficar gasta.<br />
<br />
Mas acontece que chega um momento em que é ridículo me estressar se isso não vai me levar a lugar nenhum. Juro, se eu voltasse alguns anos atrás teria me aborrecido bem menos. Daí, amigo leitor, você deve estar pensando "mas meus problemas são realmente muito sérios". Bem, não duvido que sejam. Porque eu também tenho uns seríssimos. Uns são tão sérios que não tem saída. Que eu, particularmente, não vejo como EU posso resolver. Então, se eu não posso resolver, não faz sentido virar a noite acordada preocupada com isso. Mas pense: esse problema tem solução? Não? Então não temos um problema, temos uma coisa chata a ser aceita. E se tiver solução? Daí você resolve. Mas sem reclamar. Você senta, faz um café, olha pra janela e elabora a solução que você colocará em prática LOGO.<br />
<br />
Lembre que a graça é o caminho. O caminho pra chegar nos seus sonhos. Se o caminho tá difícil, ponha graça nele. Coloque uma bala na bolsa. Procure algo que te dê prazer na jornada. Porque no dia em que você chegar lá, você vai se sentir muito mais satisfeito com o caminho em si do que com a concretização do sonho. Quer ver?<br />
<br />
Pense em algo muito legal que aconteceu. Algo pelo qual você lutou e que você conseguiu. Qual a melhor recordação que você tem?<br />
Vou dar um exemplo muito bobo.<br />
Acontecimento: em 2009, quando eu passei um minuto conversando e tirando fotos com a Meg Cabot na Bienal do Livro.<br />
Melhor recordação: ficar 4 horas numa fila cheia de gente legal, sentada no chão, falando sobre as mais diversas coisas legais no mundo. Ver as minhas amigas do outro lado do vidro dando tchau pra mim foi muito mais emocionante que o "come in" da Meg.<br />
Viram? A melhor parte é o caminho, os detalhes, a alegria nossa com as pessoas que nos fazem bem.<br />
<br />
Então, sabe como é, tenta ser leve. Você merece.<br />
<br />
<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-88609923965163610592014-05-27T22:04:00.001-03:002014-05-27T22:19:40.758-03:00Trinta mil<b><span style="color: red;">ACABEI DE VER QUE CONSEGUI MAIS DE 30 MIL VISUALIZAÇÕES DE PÁGINA!</span></b><br />
<b><span style="color: red;">Muito obrigada, mesmo!</span></b><br />
<b><span style="color: red;">Eu não posto quase nada quase nunca, mas vou me esforçar porque 30 mil visualizações merecem um novo post!</span></b><br />
<b><span style="color: red;"><br /></span></b>
<b><span style="color: red;">E sobre o quê postar? </span></b><br />
<br />
Pensei por alguns instantes e resolvi falar sobre o seu Tadeu*, um paciente que eu e alguns amigos tivemos no ano passado.No segundo semestre de 2013, durante o sexto periodo da faculdade, nossa turma foi organizada em grupos e cada grupo acompanhava a rotina de uma enfermaria do hospital. O meu grupo ficou em uma enfermaria masculina da clínica médica, a mesma onde <a href="http://oquelumapensa.blogspot.com.br/2013/12/morrer-morrendo.html" target="_blank">João</a>* esteve internado. Na divisão dos alunos entre os leitos, antes de conhecermos os pacientes, já houve o receio de quem ficaria com o leito 2. O paciente do leito 2 não falava e tinha seus movimentos comprometidos. Dois meninos ficaram responsáveis pelo leito 2.<br />
<br />
O primeiro dia foi muito complicado, como eu observei do leito 3 e os meus colegas me relataram mais tarde. A comunicação parecia impossível. Ele apontava para o braço e ninguem entendia ao certo. Seu Tadeu havia sofrido um acidente vascular cerebral bastante extenso 2 meses antes. As sessões de fono e fisioterapia eram diárias.<br />
<br />
Conforme os dias foram passando, começamos a perceber as coisas que seu Tadeu queria dizer. O modo como apontava, as expressões faciais. Entretanto, nos primeiros dias eu achava que seu Tadeu ia demorar muito tempo ainda no hospital. Muito tempo mesmo, muitos meses, talvez anos. Talvez nunca tivesse alta. E eu me sentia péssima por ser tão negativa em meus pensamentos.<br />
<br />
Mas, graças a Deus, a força de vontade de seu Tadeu, o maravilhoso trabalho de toda a equipe que o assistia, eu estava errada. Algumas semanas depois, começaram os avanços. Seu Tadeu já sentava com apoio na cama. A notícia se espalhou pelo hospital. em todo o corredor do nono andar só se falava de sua melhora, de seu avanço. Mas nada foi tão emocionante quanto a manhã em que estávamos em outra enfermaria quando uma médica residente chegou exclamando "Seu Tadeu está falando!"<br />
<br />
Todos corremos para o leito de seu Tadeu. Ao que a fonoaudióloga cobriu a traqueostomia, ele desatou a falar.<br />
"O senhor sabe o seu nome?" - perguntou a professora.<br />
E seu Tadeu respondeu seu nome completo sem pensar muito. Em seguida vieram perguntas de localização no tempo e no espaço e ele estava super consciente. Suas confusões eram insignificantes para alguém que estava internado há quase quatro meses.<br />
Nos dias seguintes, ele recuperou alguns dos movimentos e aprendeu a cobrir a própria traqueostomia para falar. E como falava! Seu Tadeu falava de tudo. Comentava sobre sua família, discursava sobre sua neta, sua esposa, a história de sua vida e principalmente, elogiava as alunas e as médicas. Um dia virou pra mim e disse : "Você é a médica mais bonita desse hospital. Como você é bonita!". Penso para quantas alunas ele falou isso. Como ele gostava de nos elogiar. E falava dos meninos também. Certa vez virou para Diego, meu colega de turma e falou que ele era um menino muito "galante". Que quando ele ficasse bom iria viajar para Cruz das Almas com ele, e que lhe arrumaria uma namorada. Mas depois exclamou: "mas lá em Cruz das Almas vai ser mais difícil arrumar namorada, as meninas são tudo crente".<br />
<br />
A melhora de seu Tadeu foi progressiva. E foi assim que no final de setembro de 2013 seu Tadeu recebeu alta. É claro que ele não era o mesmo de antes. Ele provavelmente não iria mais andar, e as chances de trocar a gastrostomia por alimentação via oral eram poucas. Mas como ele estava feliz. No dia de sua alta foi a primeira vez em que o vi sem as vestes do hospital, mas sim com suas vestes pessoais. Sua esposa e a tão amada neta estavam lá. Foi uma comoção geral. Todos os alunos e médicos do setor já estavam apegados a ele, assim como os enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogas.<br />
<br />
O seu Tadeu foi muito marcante na vida de todos nós. Seu bom humor, sua disposição em melhorar, e o quanto sua melhora me fez acreditar mais que coisas antes incríveis se tornem possíveis fizeram de mim uma Luma muito melhor. Muito obrigada, Seu Tadeu.<br />
<br />
* nome fictício<br />
<br />
<span style="color: magenta;">Os acidentes vasculares cerebrais (vulgos AVC, AVE, derrame etc) acometem muitas pessoas no mundo todo. Estão entre as principais causas de morte e morbidade (piora na qualidade de vida) em todo o mundo. Pacientes com hipertensão, diabetes, dislipidemia (colesterol elevado por exemplo) e tabagistas têm maiores chances de ter um AVE qua a população em geral. Por isso, as pessoas que têm essas doenças devem mante-las sob controle, tomar os medicamentos, seguir dieta, fazer exercício. </span><br />
<br />
<span style="color: magenta;">Abaixo, alguns links do Ministério da Saúde com maiores informações sobre o assunto:</span><br />
<a href="http://www.avozdaserra.com.br/noticia/25130/avc-ministerio-da-saude--alerta-para-sinais-da-doenca">http://www.avozdaserra.com.br/noticia/25130/avc-ministerio-da-saude--alerta-para-sinais-da-doenca</a><br />
<a href="http://www.blog.saude.gov.br/index.php/saudeemdia/32001-identificar-sintomas-iniciais-do-avc-e-decisivo-para-o-tratamento">http://www.blog.saude.gov.br/index.php/saudeemdia/32001-identificar-sintomas-iniciais-do-avc-e-decisivo-para-o-tratamento</a>Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-34274168583099374862014-05-08T21:15:00.003-03:002014-05-08T21:15:54.513-03:00Por causa do danone# censura: uns 10 anos. Não invente de ler em voz alta pro seu filho que está no Jardim II. <br />
<br />
Hospital do Fundão<br />
Serviço de Dermatologia.<br />
<br />
Um grupo de academicos, professor e residente estão reunidos em uma das salas do ambulatório, esperando a chegada dos pacientes.<br />
<br />
Uma das pacientes, uma senhora de meia idade, bate na porta e entra.<br />
- Então, dona Zainurita*, o que lhe trouxe à Dermato?<br />
- É o seguinte, tenho uma coceira horrível no corpo. Mas não é só a coceira. - a paciente continua falando bastante rápido e exaltada - Eu tenho uma hérnia na coluna que me doi muito. Não posso sentar, carregar peso. Também tô com um caroço na tireóide que não querem me operar. Disseram que não precisa. Querem me matar, isso sim. Uma pessoa já me disse que isso é câncer. Não estão querendo tirar meu câncer.<br />
<br />
A médica residente observa o prontuário e vê o relato de um nódulo pequeno e benigno de tireóide (afinal, 95% dos nódulos de tireóide são perfeitamente benignos). A paciente não parou nem para respirar.<br />
<br />
- Também tô tomando um monte de remédios. Ah, e antes que alguém me pergunte. Eu não faço sexo. Meu pai nunca deixou eu casar. - e continuou - tenho essa dor no pescoço que me mata. Dói isso aqui tudo. Também tô com uma fraqueza nas pernas. Ah, e o ginecologista me passou esses remedios aqui.<br />
<br />
Nesse momento ela abre uma sacola bastante cheia, com vários medicamento. Joga umas três caixas na mesa.<br />
<br />
- O ginecologista que me atendeu era um maluco. Ele disse que pra resolver meu problema eu tenho que me prostituir, sair transando com todo mundo. Onde já se viu sair transando com todo mundo? Ah, sim, e eu também fico muito nervosa com essa situação. porque operaram meu coração errado. E depois eu fiz um exame no rim e esqueceram de colocar uma sonda em mim. Daí minha bexiga quase explodiu no meu corpo. Quem me salvou foi uma filha de um advogado, que tava andando pelo corredor do hospital no dia. Eu quase morri. É muito médico tratando a gente errado. Ah, e tem os remédios que eu tomo.<br />
<br />
Nesse momento, ela abre a bolsa e joga na mesa (e eu não estou exagerando, por Deus) umas 30 caixas de remédios.<br />
<br />
- Esses são os remédios que eu tomo. E nada nunca melhora.<br />
<br />
A médica residente tenta voltar ao problema:<br />
<br />
- Mas e essa coceira?<br />
<br />
- Ah, sim. essa coceira é no corpo todo, corpo todo. Olha, como eu me coço. - e daí, a paciente que estava há uns 20 minutos sem se coçar, volta a fazê-lo - E eu já tomei vários remédios.<br />
<br />
E adivinhem o que ocorreu? Sim, mais caixas de remédio surgem na mesa.<br />
<br />
- E quando começou a coceira?<br />
<br />
- Ah, começou em janeiro. Eu me coço o tempo todo. Tive diarréia. Meu cabelo cai muito.<br />
<br />
Olhei para o couro cabeludo da paciente. Nenhum sinal de rarefação. Além disso, é perfeitamente normal perder até 300 fios de cabelo por dia.<br />
<br />
Dona Zainurita então pega outra sacola. e começa a jogar vários chumaços de cabelo em cima da mesa.<br />
<br />
- Caiu isso tudo aí. - contou com naturalidade.<br />
<br />
O chumaço tinha menos fios de cabelo do que cai da minha cabeça em uma lavagem.<br />
<br />
Uma das alunas, chocada com o ato, diz:<br />
- Isso caiu em um dia?<br />
- Não, isso aí caiu em vários dias. o de hoje está aqui.<br />
<br />
Então nos apresentou uma pequena quantidade de cabelo à parte.<br />
<br />
O professor pergunta à paciente:<br />
- Alguma vez lhe encaminharam à psiquiatria? Sabe, o psiquiatra é médico também e pode ajudá-la, a senhora já toma muitos remédios. Ele pode ajudá-la sobre os remédios que a senhora toma. - disse ele cheio de tato, já que muitos pacientes tem horror à psiquiatria. principalmente os que mais precisam dela.<br />
<br />
- Sim, me encaminharam. E eu quero ir lá ver esse médico. Pra ver o que ele pensa desse ginecologista que mandou eu me prostituir.<br />
<br />
A médica residente então, afastando as caixas de remédio e fios de cabelo, faz uma prescrição.<br />
- Aqui, suspende esses remedios (e apontou para alguns). Tome esse antialérgico.<br />
- Ele é de manipulação?<br />
- Não, a senhora compra pronto.<br />
- Ótimo, porque meu pai morreu porque tomou remédio de manipulação. Doutora, você acha que isso é câncer? - e aponta uma verruga bem pequena no pescoço.<br />
- A senhora tem há muito tempo?<br />
- Sempre tive. Mas vai que é câncer.<br />
- Fique tranquila, a gente vai observar isso. Mas não é câncer não. - continuou a jovem médica, cheia da paciência.<br />
<br />
Uma aluna então diz:<br />
- Pode pegar esses cabelos e jogar fora, viu?<br />
- Não, ela não vai jogar fora. - diz o professor. - é melhor que ela leve na consulta do médico psiquiatra e mostre a ele, assim como os medicamentos. Está bem, dona Zainurita?<br />
<br />
Ao guardar os cabelos e caixas de medicamentos, a paciente retira um vidro de leite fermentado vazio da bolsa. Põe em cima da mesa.<br />
- Tudo começou com isso. Eu tomei um vidro de danone em janeiro e tô passando mal até hoje.<br />
- A senhora ainda está tomando o danone? - perguntou o professor?<br />
- Não, só tomei um. Mas tô me coçando até hoje.<br />
- Ótimo, leve o vidro no psiquiatra também.<br />
<br />
A paciente levanta-se para ir embora. Ao passar pela porta, ela diz por ultimo.<br />
- Eu não casei, não tive filhos. Mas criei dois meninos como meus filhos. Os dois são malucos. Não sei porque, eu os criei tão bem. <br />
<br />
<br />
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<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-29803482957053727552014-03-10T17:51:00.004-03:002014-03-10T17:59:36.999-03:00para ver- Pai, meu dia foi uma porcaria. (...) E ainda quebrei uma lente dos meus óculos.<br />
<div>
- Já te falei que gente estabanada igual a você não pode ficar usando essas coisas caras.</div>
<div>
- Pai, meus óculos foram um dos mais baratos da loja.</div>
<div>
- Mas óculos sempre é caro.</div>
<div>
- Mas eu preciso dos oculos. </div>
<div>
- Você acha que precisa.</div>
<div>
- Não, pai. Eu realmente preciso. eu preciso dos óculos. Para VER.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Papai e sua mania de se atrapalhar ao dar conselhos. Oh, e ele não admitiu que eu estava certa!</div>
Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-71599708581892367712014-02-07T19:57:00.000-02:002014-02-08T17:37:12.711-02:00Biscoito<div>
Sexta feira, 13h.</div>
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Auditório do Instituto de Pediatria da UFRJ.</div>
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Professora, uma senhora fofa demais, entra na sala de aula e fala:</div>
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"Gente, trouxe uma coisa pra deixar vocês acordados."</div>
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<br /></div>
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Nesse momento, a professora pega uma sacola e entrega váááááários pacotes de biscoito de Kid Lat chocolate pra turma. Alegria geral.</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-mBvAOQ0YGdw/UvVR_l-hd1I/AAAAAAAAAy8/SSugRd4cOA4/s1600/biscoito+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-mBvAOQ0YGdw/UvVR_l-hd1I/AAAAAAAAAy8/SSugRd4cOA4/s1600/biscoito+1.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<br />
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<br /></div>
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<br /></div>
<div>
Daí, no fim da aula, ela vira e fala: "Gente, tem mais aqui" e abre uma sacola com váááários pacotes de biscoito. Dessa vez, Negresco.</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3gGcNy0dslg/UvVR_uF4YCI/AAAAAAAAAzM/2_CBGgnYsGk/s1600/biscoito+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-3gGcNy0dslg/UvVR_uF4YCI/AAAAAAAAAzM/2_CBGgnYsGk/s1600/biscoito+3.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div>
Então, foi tirar os slides. Depois, pegou mais uma bolsa com vááááários pacotes de Kid Lat de chocolate com morango e deu pra turma.</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-7-VIVt5WdpI/UvVR_2WIakI/AAAAAAAAAzQ/ep__cpJPdp8/s1600/biscoito+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-7-VIVt5WdpI/UvVR_2WIakI/AAAAAAAAAzQ/ep__cpJPdp8/s1600/biscoito+2.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Quando eu digo vários, é papo de uns 15 pacotes ou mais de cada tipo de biscoito.</div>
<div>
Eu achei que ela tem cara de quem faz bolo pros netos. Thiago disse que ela tem cara de quem enche o prato dos netos de batata frita. E compra picolé pra eles. Mas não picolé da fruta. Magnum e essas paradas que custam mais de 5,00. </div>
<div>
(eu nunca comi um magnum. 6,00 é muito dinheiro pra um picolé. Quem sabe quando eu casar com Harry e virar princesa.)</div>
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<br /></div>
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Quase perguntei onde ela mora e se distribui doce no dia de São Cosme e São Damião. Porque, vai que, né?</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div>
É assim que a pediatria me conquista a cada dia mais. Na primeira pratica de pediatria que tive atraves da Laped (Liga Academica de Pediatria), em 2012, ganhei um pedaço de bolo de maracujá. As medicas que atendiam no dia estavam fazendo uma festa de aniversario no dia em que eu cheguei e foi só eu bater na porta que eles já a abriram com uma fatia de bolo e me chamando pra entrar. Duvido isso acontecer em outras áreas. Geralmente academico, quizá de 4o periodo (que é onde eu tava na epoca), esta abaixo da base da piramide. Tipo, eu e Stephanie uma vez organizamos algo tipo assim:</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-7xgWNIpyRc0/UvVVWCRge-I/AAAAAAAAAzo/eUExhqnM9h4/s1600/piramide+social.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-7xgWNIpyRc0/UvVVWCRge-I/AAAAAAAAAzo/eUExhqnM9h4/s1600/piramide+social.png" height="203" width="400" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Na segunda pratica de pediatria que tive, encontrei a endocrinopediatra que me atendeu quando eu tinha 9 anos. Foi engraçado ouvir o discurso sobre "a importancia dos coloridos no prato" quando se está do outro lado. Lá na pediatria o elevador funciona (coisa que no HU, que tem 13 andares nao rola), mas ninguem usa, porque só tem 3 andares. E as paredes tem desenhos pintados pelas crianças. Tipo, é outro mundo. É um mundo as pessoas são educadas. Educadas, entendeu? Pessoas fofas! Onde os medicos, pelo menos a maioria, não ignoram sua presença. É surreal. Cara, é tipo Nárnia.</div>
<div>
<br /></div>
Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-66498312038746031452013-12-01T19:31:00.001-02:002014-02-07T20:03:49.936-02:00Morrer morrendoQuem convive comigo, sabe o quanto sou apegada a meus pacientes. Às vezes posso não transparecer, mas é meio que inevitável não ficar pensando sobre suas vidas quando estamos voltando pra casa.<br />
<br />
Nesse 6º periodo nós ficamos acompanhando um leito de alguma enfermaria do hospital. Vemos o paciente nele internado todos os dias, colhemos sua história, o examinamos todos os dias, acompanhamos seu processo de adoecimento, diagnostico e, na maioria das vezes, cura.<br />
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É impressionante como cada paciente interfere no seu modo de ver a vida. No seu modo de lidar com ela. Mas, o mais impressionante, é quando eles mexem com o nosso processo de como ver a morte. Aprendi com todos os que passaram pelo leito 3, o meu leito, alguma coisa importante. Todos eles estão comigo todos os dias, em cada coisa que eu faço. Penso em todos todos os dias. Sei que tem gente que não vai acreditar, mas vocês não são obrigados a tal.<br />
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Quero falar já há algum tempo, sobre o sr. João(nome ficticio). João internou há algum tempo com queixa de "barriga inchada". A história dele é como a de muitos brasileiros. Começou a passar mal semanas antes, mas por não ter plano de saúde ou condições de arcar com um tratamento no setor privado, procurou a emergência publica. Com a justificativa de "o senhor não está morrendo", os hospitais de emergencia o mandavam pras UPAs, e nas UPAs João só recebia remedio pra dor. Claro que remédio pra dor não cura ninguem (a menos que seja uma doença auto-limitada, que o organismo cura sozinho), e por isso João só piorava. João acabou que foi um dia atendido por um médico, que tinha um amigo que trabalhava no hospital universitario e mandou João pra lá.<br />
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(tá, não sei exatamente os detalhes, mas foi mais ou menos assim).<br />
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João chegou ao hospital muito mal. Já tinha algumas doenças de base e no momento de admissão tinha problemas de comportamento e consciencia por problemas metabólicos, que só melhoraram alguns dias depois. Medicado para seus sintomas, começamos a investigação sobre o que ele tinha. E ao mesmo tempo em que os exames eram feitos e as hipoteses diagnosticas discutidas eu ia conhecendo melhor aquele homem de quase setenta anos. Suas histórias sobre a juventude, seu modo de encarar a vida, as coisas que mais gostava de fazer. João foi a primeira pessoa a me chamar de "dôtora".<br />
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Após alguns dias, fecharam o diagnóstico. João tinha um câncer avançado. A equipe médica pesquisou todas as possibilidades terapeuticas, mas nenhuma se encaixava em um quadro tão avançado. Opções cirurgicas e até mesmo algo paliativo, que desacelerasse o crescimento do tumor, era inviável. João ia morrer. Como todos nós vamos um dia. Mas era diferente.<br />
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Impressionante como parecia que ele aceitava melhor sua doença do que eu. Um dia ele falou "Setenta anos bem vividos tá bom. É mais ou menos o que as pessoas vivem mesmo.". E ele queria ir pra casa logo, fazer as coisas que gostava de fazer. João parecia conformado. Mas eu não estava conformada.<br />
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Não estava conformada com nosso sistema de saúde que tem inumeras falhas. João fazia sua parte, ia ao medico da clinica da familia periodicamente. João pagava seus impostos. Mas não fizeram um ultrassom de rotina nele. Se ele tivesse sido submetido ao cuidado que sua doença de base exigia nos ultimos anos, não teria chegado a esse ponto. Se seu atendimento emergencial fosse num lugar onde ele fosse investigado ao invés de receber dipirona, ele não teria chegado a esse ponto. Eu conheci João. Eu estava preocupada com proximo Natal dele. Eu sei que todos nós vamos morrer, mas por coisas bobas, João vai ter menos Natais do que ele merece.<br />
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E o que mais me incomoda é que João é só mais um. Porque todos os dias chegam pessoas a hospitais só quando estão graves demais pra serem curadas. <br />
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João foi mandado pra casa do mesmo jeito que a minha avó foi mandada pra casa 14 anos atrás, quando descobriram o câncer dela. Ele foi mandado com analgésicos do mesmo jeito que vovó. Falaram pra família dele que não poderiam fazer mais nada, do mesmo jeito que falaram com a minha família há 14 anos. João foi mandado pra casa com poucas esperanças.<br />
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Acontece que dia desses revi João. Ele estava emagrecido. Ele estava triste. Ele estava doente. Não que não estivesse antes, mas agora ele estava nitidamente doente. Quando aceitou a morte, João não planejou que fosse morrer morrendo. Sim, morrer morrendo, aos poucos. Ir dependendo das outras pessoas cada dia mais. Ir se sentindo pior e pior, e se tornar cada vez menos independente com o passar dos dias. João segurou a minha mão e falou olhando em meus olhos: "Dotôra, eu não tô bem. Antes eu tava ruim só do corpo, agora é da mente também. Eu tô mal. Eu sei que vocês não tem o que fazer. Reza por mim, dotôra, reza." Respondi que já estava rezando. E estou.<br />
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Não rezo mais por milagres, pra que as pessoas se curem. Não faço mais isso. Mas concentro minhas orações em pedir que Deus amenize o sofrimento. Porque eu conheci João e sei que esse "morrer morrendo" está lhe tirando o que ele considera sua dignidade. Rezo pra que ele tenha dignidade pra morrer. Para que Deus faça o que achar melhor.<br />
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Vocês sabem que minha imaginação é pra lá de fertil. Sempre pensei que se descobrisse que tinha alguma doença bastante ruim eu ia lutar com todas as forças até o fim pela minha vida. Mas nunca parei pra pensar o que seria de mim se eu não tivesse a chance de lutar. E João me fez pensar sobre essa possibilidade. Fiquei muito assustada. Não consigo imaginar receber uma noticia e ter que ficar sentada esperando morrer. Esperando morrer morrendo, aos poucos. É agoniante. Porque se tem um jeito bem ruim viver, seria assim.<br />
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João está em casa, com sua família. Assim como milhares de pessoas estão em casa, sem nenhuma possibilidade terapeutica. De verdade, espero que João se sinta digno. Que se sinta autônomo. Que faça o que quer. Porque todos vamos morrer um dia. Mas ninguem merece morrer morrendo.<br />
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<i>para atualizar: João faleceu alguns dias depois desse post. Ele não passou o Natal com a familia, pelo menos não fisicamente. Mas João não estava em condições de continuar sobrevivendo. Porque viver, viver mesmo, João já não estava mais.</i><br />
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<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-45832171180407336232013-09-22T09:55:00.001-03:002013-09-22T09:55:16.874-03:00PacientesUma das coisas mais legais de se fazer Medicina é o contato com vários pacientes. Poder entrar na vida deles, ouvir o que fazem, como se sentem, é algo simplesmente incrível. Conhecer histórias de vida é gratificante. E saber que você pode interferir nessas histórias pode ser assustador. Mas enquanto sou uma mera academica, resta-me colher várias histórias, de várias doenças, de várias pessoas. Nesse 1 ano de ciclo clínico, certamente ouvir histórias muito interessantes. Não, não estou falando da história das doenças, mas da história das pessoas. Melhor ainda, conhecer as pessoas. Então, quero enumerar aqui, algumas das situações mis engraçadas com pacientes mais engraçados que conheci, passei por quase todas com Stephanie, já que a gente sempre colhe anamnese junta :<br />
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1. A senhora dos orgasmos<br />
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Eu estava no começo do 5o periodo. Precisava colher anamnese (que é a história da doença do paciente) e encontrei essa senhora de 40 e poucos anos internada na Cardio. Ela tinha doença de Chagas e colocaria um marcapasso. Quando eu cheguei na parte em que a gente pergunta sobre hábitos de vida:<br />
" Já sei o que vocês vão me perguntar, sobre sexo. Eu sei que vocês tem que perguntar. Então, até me separar eu só tinha feito com meu marido. Aí, quando eu me separei arrumei um novo namorado. Fiquei com muita vergonha de fazer com ele, e ele foi muito paciente comigo. a gente ia pro motel e eu ficava com vergonha, daí a gente voltava. Quando finalmente a gente fez... eu não sabia que podia ser bom! Depois tive outros namorados e foi ótimo. Não sei com quantos caras eu fiz depois disso, mas não dá contar. Às vezes era mais de um por dia, eu chegava em casa e outro me ligava. Aí eu ia. Quando eu era casada eu não sabia quanta coisa dava pra fazer. Mas apesar disso tudo eu descobri que nunca tive um orgasmo. Vocês sabem o que orgasmo? Já sentiram?Já?"<br />
Após um momento de silencio (afinal eu estava assustada!) eu falei que não, porque eu sequer tenho um namorado. Na verdade, nada mais disso era importante pra anamnese, mas<br />
"É, muita gente não teve. Eu conversei com outras pessoas e descobrir que, apesar de gostar da coisa, eu nunca tive um. Minha irmã fala umas coisas de um nível que eu não sinto. Acho que não vou sentir mais. Mas se vocês tiverem alguma dúvida quanto a isso, pode perguntar. Às vezes a gente tem duvida e tem que tirar, e fica sem graça de falar com a mãe ou outra pessoa. Mas eu quero ajudar."<br />
O mais interessante foi como a dona M. inverteu o jogo como se ela estivesse cuidando da gente. E como ela falou disso tudo com a maior naturalidade.<br />
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2. O ex-travesti<br />
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Eu estava na DIP (doenças infecto-parasitárias) quando comecei a colher a historia de A., que era um rapaz que tinha HIV desde que nasceu. Logo, ele era imunossuprimido desde sempre e teve muuuitas doenças na infancia. Mas ele tinha 30 anos. Provavelmente os pais dele foram uns dos primeiros casos de AIDS no Brasil. O cara tinha todo o trejeito GLS. Acabou que na hora em que eu comecei a citar que perguntaria sobre habitos sexuais, ele começou a se soltar sozinho:<br />
" Ah, claro. Então, eu já me envolvi com homem e com mulher. Eu inclusive já fui uma travesti linda. Eu andava na rua e as pessoas falavam 'olha que morena gostosa'. O nome que eu usava era Lana Beatriz. Eu escolhi esse nome quando namorei um francês e ele queria me levar pra França com ele, eu já tinha tirado passaporte e tudo. Na França, eu ia fazer cirurgia pra mudança de sexo. (...) Mas agora eu não sou mais disso, há seis meses eu entrei pra Igreja, desde que minha vó sofreu um AVC. Eu quero que ela seja feliz. Aí entrei pra Igreja e vou casar com uma mulher. Quero levar uma vida direita. (...) Mas quando eu tava no mundo eu gostava daqueles homens fortes, altos, que te jogam na parede e te pegam de jeito.(...) Mas eu saí dessa vida, tô na benção agora."<br />
Desculpa Feliciano, mas tem coisas que não têm cura. Porque não é doença, é jeito de ser. E é pra sempre.<br />
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3 . A senhorinha da lista<br />
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Essa foi a melhor. Dona E. tinha 60 e poucos anos e estava internada pra operar uma hérnia. Enquanto ela contava sobre os médicos pelos quais passou, relatava o quanto eram bonitos, gentis...<br />
" Vocês namoram com os médicos daqui?"<br />
Contei que não. Esse é o tipo de impressão de Greys Anatomy deixa nas pessoas.<br />
" Pois vocês são tontas. Pois têm uns médicos lindos nesse hospital. eu já tô velha, mas vocês têm que aproveitar. Anota aí (e pegou um papel na bolsa): dr. Fulano atende no ambulatório tal às quintas de manhã. Dr Beltrano atende no ambulatório tal as sextas de manhã. Dr. Cicrano atende às terças à tarde, esse inclusive terminou com a namorada semana passada, porque eu ouvi ele comentando sobre isso com alguém no celular. Se eu fosse você (e aí apontou pra mim) ia nesse. Vai lá, joga os cabelos, joga um charme, garota. É um desperdício estar num lugar desse e não aproveitar."<br />
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<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-19076801775249504632013-08-04T17:02:00.004-03:002013-08-04T17:02:43.584-03:00Foragido.Aconteceu há umas três semanas.<br />
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E o problema todo começou depois da festa junina do trabalho de mamãe. É que cada professora ficou com uma barraca na festa junina, e mamãe resolveu escravizar todo o clã Peril-Pereira. Pois é, e estávamos às vésperas da prova de farmacologia. Mas mães são assim, exigem nosso tempo, nossa atenção, nosso carinho, nossa dedicação, nossa alma e nossa maquiagem.<br />
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Como mamãe ficou na barraca que "homenageava" o milho, ficamos o sábado todo vendendo angu e milho cozido. Eu não sabia que as pessoas gostavam tanto de angu. Eu achava que essa paixão era coisa de gente pobre que gosta de comida de roça, como eu. Mas não, realmente muita gente. E não é por nada não, mas considerando as habilidades culinárias da minha família, não duvido que estava ótimo. Porque eu não comi, já que deixei para comer depois da festinha e no fim de tudo eu estava enjoada só em pensar em angu. Se vocês ficassem 7 horas seguidas ao lado de panelas de angu e seus molhos entenderiam. Acontece que no fim das contas, papai se empolgou e comeu três pratos CHEIOS de angu. E não foi com a opção "molho saudável de carne moída", foi com a opção "molho maligno com coisinhas suínas".<br />
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Partindo do princípio que papai divide a posição de Estomago mais Sensível do Mundo comigo, não tinha como dar em outra. Ele começou a passar mal no dia seguinte, com enjoos, vomitos e muita dor abdominal. Eu falei que deveria ser uma intoxicação, que ele tinha que se hidratar e ter uma alimentação leve pra melhorar. Mas obviamente ele disse que eu estava fazendo pouco caso do mal que o assolava e foi pro hospital na terça feira de manhã, sendo diagnosticado com "nada". Na noite de terça pra quarta ele voltou ao hospital com mamãe, dizendo as dores estavam muito fortes. Papai me ligou às 5 da manhã dizendo que estava no hospital com suspeita de apendicite.<br />
<br />
Travei: meu pai tava com apendicite e eu ali, ignorando e dizendo que ele só tinha uma intoxicação alimentar! Me senti uma das piores pessoas do universo, como se eu estivesse ignorando solenemente meu pai com um caso cirurgico de emergencia! Saí de casa correndo pro hospital e chegando lá encontrei papai no soro. Estava esperando trocar o plantão pra fazer a cirurgia. Eu fiquei um tempo com papai, deixei ele lá com mamãe, voltei em casa, falei com Teco e fui pra faculdade. Às 11hs ligo pra mamãe e ela me diz que os médicos desse plantão não acham que papai tem apendicite e que ele foi submetido a uma segunda tomografia computadorizada. Às 14h ligo pra mamãe e ela me diz que papai está indo pro centro cirurgico, que eles vão procurar a causa da irritação peritoneal que está causando a dor em papai. Ele estava indo pra uma cirurgia exploratória.<br />
<br />
Às 17:30 ligo pra mamãe mais uma vez, quando eu já estava no onibus voltando pra casa. E tudo o que ela me diz é:<br />
mamãe: "Seu pai fugiu do centro cirurgico".<br />
eu: "Como assim?"<br />
mamãe: "Ele teve uma crise nervosa no centro cirurgico e não deixou o anestesista anestesiá-lo, os dois cirurgiões tentaram convencer seu pai, mas não teve jeito. Ele assinou um termo afirmando que saiu do hospital por vontade própria e que não vai fazer cirurgia nenhuma"<br />
eu, já desesperada: "Mãe, passa pra papai! Ele tá maluco? Ele quer morrer?"<br />
mamãe: "Você não vai discutir com seu pai, ele está triste. Estamos indo pra casa, lá a gente conversa."<br />
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Coisas que só acontecem na minha família. Pessoas fugirem do centro cirurgico. É claro que eu fiquei em pânico, papai poderia morrer, sei lá o quê ele tinha, não é mesmo? Em casa, papai só chorava e se recusava a voltar ao hospital. Foi a noite inteira todo mundo convencendo papai a voltar ao hospital e, com muito, custo, convencemos ele a voltar ao hospital no dia seguinte. Na manhã seguinte eu acordei e encontrei papai fazendo flexões na sala. Flexões! "Papai, o senhor tá maluco?", "Não, Luma, tô ótimo, olha!"<br />
Fomos pro hospital. O plantonista dessa vez (belo médico, por sinal) viu que papai já não tinha mais nenhuma descompressão dolorosa, viu os exames e tudo o que ele disse foi: "Senhor, seu caso não é cirurgico não! Foi só uma intoxicação alimentar."<br />
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Que alívio!Alívio porque a noite anterior havia sido terrível, com medo do que papai poderia ter. Alívio porque ele tava bem (fazendo flexões, quem diria!). Alívio porque meu diagnostico estava certo desde o começo (estudante de medicina feelings).<br />
Alívio de papai porque não tinha ganho uma cicatriz em seu abdome atletico e ninguém tinha roubado um rim seu durante uma cirurgia.<br />
E a partir daí foi uma melhora progressiva de modo que no sábado seguinte papai tava ótimo.<br />
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Fala sério, coisas que só acontecem na minha família.<br />
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<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-59518362086666782432013-06-21T18:57:00.003-03:002013-06-21T18:57:31.692-03:00Peds7 horas da manhã e eu dormindo no onibus. De repente um bebê começa a chorar. Chorar muito. Chorar muito alto.<br />"Desisto da pediatria" digo eu. <br />10 minutos depois o bebê (de mais ou menos uns 2 anos) para de chorar e fala: "Tá, aí vai, a mamãe, a vovó, o neném..." com aquela voz de criança fofa que está aprendendo a falar.<br />
"Retiro o que disse sobre pediatria. Eu quero *-* "Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-52400944611378042922013-06-08T22:00:00.000-03:002013-06-08T22:00:11.510-03:00parecia um ETTeco: "Mãe, por que os bebês são bonitos? Nascem bonitnhos?"<br />
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Mamãe: "Não, nem todos os bebês nascem bonitos"<br />
<br />
eu: "alguns nascem horríveis. Ficam bonitinhos depois."<br />
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Mamãe: "Teco, você por exemplo nasceu horrível. Horrível mesmo. Parecia um ET. Eu olhava pra você e pensava 'por que meu filho é tão feio?'. Mas os meses passaram e você virou um bebê lindo. Eu não sei como, mas de um ET você virou um bebê lindo."Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-66454978790967350052013-06-02T21:10:00.004-03:002013-06-02T21:10:43.788-03:00Já escolheu?Papai: <span style="color: blue;">"e aí, filha, já escolheu sua especialidade?"</span><br />
<span style="color: red;">"Não, pai."</span><br />
Papai:<span style="color: blue;"> "O que vc acha de cardio?"</span><br />
<span style="color: red;">"É dificil, é chato."</span><br />
<span style="color: blue;">" Já pensou se vc fosse uma neurocirurgiã?"</span><br />
Rio alto.<span style="color: red;"> "Sem chances, não tenho QI pra isso. E não tenho a menor sensibilidade com movimentos finos, fico tremendo."</span><br />
<span style="color: blue;">"Ortopedia?"</span><br />
<span style="color: red;">"Pai, eu não sou marceneira. Sou fraquinha, mal consigo abrir latas. Quiçá colocar um braço no lugar."</span><br />
<span style="color: blue;">" Pediatria, filha?" </span>- e agora papai faz a pergunta esperando que eu responda negativamente.<br />
<span style="color: red;">"Eu gosto da pediatria. Mas o problema são os bebês, eu nunca sei o que eles estão sentindo."</span><br />
<br />
E daí eu chego num impasse. Também não gosto de nefrologia, nem de pneumo. E endócrino é dificílimo, e além disso endócrino é uma especialidade feminina, daí minhas colegas de trabalho vão ser magras e elegantes, e minha autoestima vai pro chão. Em neurologia, a maioria dos meus pacientes não vai ter cura. Em reumato também. E nem me venham com a ideia de oncologia, não preciso de mais biologia celular na vida. E não quero passar o resto da vida olhando vaginas, então dispenso gineco.<br />
Oh lord, o que eu farei da vida? Tudo bem que eu ainda tenho mais 3 anos e meio pra escolher mas eu nao quero ser igual aquelas pessoas que só decidem a profissão que querem no dia da inscrição no vestibular.<br />
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<span style="color: red;">"Sabe pai, eu gosto de cirurgia plastica reparadora. Acho bonitinho consertar orelhas de abano."</span><br />
<span style="color: blue;">"Menos filha, pra isso tem que saber muito".</span>Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-63662230597342450402013-05-19T14:08:00.000-03:002013-05-19T14:08:05.593-03:00A ligação caiu.Mamãe tá no telefone com tia Giovana quando de repente a ligação cai.<br />
Mamãe liga de novo:<br />
"A ligação caiu."<br />
E minha tia: "Não, dois moleques me assaltaram. Mas já tá tudo certo, dei umas porradas neles, peguei meu celular e eles foram embora. Pode falar."Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-81647162119129834102013-05-13T17:04:00.004-03:002013-05-13T17:07:41.970-03:00Soy de Bolivia.Daí que mamãe foi ao dentista no sábado. E voltou sem ter feito o serviço que era pra fazer. E por quê?<br />
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<span style="color: #3d85c6;">"Luma, não tinha como ficar lá. Me jogaram pra uma boliviana. A minha dentista falou que tava sem tempo e me falou que a outra iria me atender. Quando eu olhei aquela carinha latina da mulher pensei logo 'não mesmo'.</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- Qual seu nome? - perguntei antes que ela perguntasse o meu.</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- Mi nome es Lupita*.</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- E de onde você é?</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- Sou de Bolivia.</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- Estudou lá?</span><br />
<span style="color: #3d85c6;">- Estudei lá e aqui. Mas está tudo correcto, tenho permissão para trabajar aqui.</span><br />
<span style="color: #3d85c6;"><br /></span>
<span style="color: #3d85c6;"><br /></span>
<span style="color: #3d85c6;">Daí eu lembrei daquilo que você me falou, Luma. Que na Bolivia a faculdade de medicina dura 4 anos e custa 400 reais. E que a maioria nao consegue reavalidar. O que seria da faculdade de odonto então? 18 meses de supletivo? Não, não mesmo, semana que vem eu volto pra minha dentista BRASILEIRA. A que demorou pelo menos 4 anos na faculdade. "</span><br />
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Isso foi mamãe na vibe de ódio a Dilma e os medicos cubanos e descontando na dentista boliviana.<br />
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Relaxem, mamis nao é malvada nem preconceituosa ao extremo não, haha. É que a gente tinha conversado sobre isso na sala de espera antes dela entrar no consultorio.<br />
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*obviamente a mulher nao se chamava Lupita. Mas eu achei que seria um pseudonimo fantastico. Ah, e segundo mamis, a conversa transcorreu em portunhol mesmo.<br />
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ps.: não sei se na Bolivia medicina dura 4 anos e custa 400 reais. a gente tava falando que era tipo isso, mas saber mesmo eu nao sei. Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-30519473152116978922013-04-07T12:39:00.001-03:002013-04-07T12:39:47.608-03:00Arrombamento pela gestaltSábado, 06 de abril de 2013.<br />
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<span style="color: #741b47;">" Começou pelo telefone. eu estava vindo do centro de Niterói dentro do onibus com ar condicionado que vai pra Maricá porque tinha dado tempo de fazer bilhete único com a van que usei na ida. Fazia muito calor fora do ônibus, mas lá dentro a temperatura estava agradável. </span><br />
<span style="color: #741b47;">Estava passando pelo Caramujo, comunidade de Niterói, rumo a minha casa, quando a minha mãe fala comigo pelo celular 'Você não vai acreditar no que seu irmão fez, foi IN-CRÍ-VEL.' </span><br />
<span style="color: #741b47;">Desliguei o telefone e cheguei em casa 15 minutos depois. Entrei pela porta da sala, que estava com o pufe verde atrás e tive que fazer força pra empurrar o pufe verde e a porta abrir. </span><br />
<span style="color: #741b47;">Assim que entrei, foi como se eu fosse Nicole Kidman chegando ao Oscar. Mamãe e Teco me cercaram e foram me levando até a porta do quarto dos meus pais, onde eu vi a cena. Vi o objeto, vi as provas. Lá estava, a porta arrombada. </span><br />
<span style="color: #741b47;">'O que aconteceu aqui', perguntei. 'O vento que entrou pela janela fez a porta bater com força e maçaneta quebrou. A porta ficou trancada. Seu irmão precisou entrar em ação', respondeu mamãe."</span><br />
Luma Peril, 20 anos, estudante, vulgo "eu".<br />
<br />
<br />
<span style="color: blue;">" Primeiro fiquei aflita se havia alguém lá dentro, olhei pela fechadura e vi que não. Alívio. Pensei na hora: dívida no chaveiro. Depois pensei que na área de serviço tinha muita roupa pra passar, dava pra sobreviver sem entrar no quarto por uns dias. Ainda bem que o notebook e meus documentos não estavam lá dentro. Quando de repente, não mais do que de repente, lembrei: TODO O MEU MATERIAL PRA PREPARAR AS PROVAS ESTAVA LÁ DENTRO e precisava mandar tudo por email para o coordenador ainda esse fim de semana. Entrei em pânico. Peguei duas chaves de fenda. Eu e Teco brigamos sobre quem seria o herói a arrombar a porta com chaves de fenda. Tudo em vão. E Teco falando: 'vou arrebentar'. Eu disse então: 'Calma, moramos em apartamento. Melhor não incomodar a velha do quarto andar(ela é pior que a de Duplex)'. O desespero tomou conta de mim e eu disse: 'Teco, arromba' e instantaneamente tapei os ouvidos. Três pancadas depois a porta abriu."</span><br />
Luciana Peril, 41 anos, professora, vulgo "mamis".<br />
<br />
<span style="color: #cc0000;">"Eu estava assistindo The Mentalist no meu quarto quando mamãe me chamou desesperadamente, pois a porta de seu quarto havia sido trancada pela força do vento. Na tentativa de abrí-la, pegamos duas chaves de fenda e começamos a cutucar. Mas não funcionou. Então mamãe me deu o aval para arrombar a porta. Daí, como nas reportagens policiais de Marcelo Rezende (eu ouvi em minha mente a frase "corta pra mim" na voz dele) tive a ideia de arrombar a porta com os pés, como nas cenas de filme policial. No primeiro chute, quase não se mexeu. No segundo, afroxou. No terceiro, acabei com ela. Naquele momento me senti o Jackie Chan do Arsenal. Mas acabei gritando: ' É Zé Pequeno, <strike>porra</strike>!', porque acho o grito dele enfático."</span><br />
Marco Antonio, 15 anos, estudante, conhecido como "Teco" ou então "irmão de Luma", que finalmente mostrou que praticar jiujitsu tem alguma utilidade.<br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">"Que <strike>merda</strike> é essa que fizeram nessa porta?</span>"<br />
Marcos Antonio, 51 anos, autonomo, vulgo "papai".<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-lofIr-0Zwyg/UWGTG97jAUI/AAAAAAAAAv8/82HRmfEDfuQ/s1600/IMG10121.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-lofIr-0Zwyg/UWGTG97jAUI/AAAAAAAAAv8/82HRmfEDfuQ/s320/IMG10121.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-70992417096711442842013-03-31T18:29:00.000-03:002013-03-31T18:29:10.082-03:00<br />
Quando chega a páscoa é assim. Os coleguinhas rykos ficam postando essas fotos de ovo de páscoa. exaltando minha pobreza, toda a falta de grana que existe entre eu e meus bombons e barras. (relaxem bebes, apesar da pobreza que nos uniu mamãe vos ama).<br />
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Já vi de tudo hoje no facebook. Até ovo da Kinder Ovo ( é maxx que se chama?). Sabe, cadê o respseito aos amiguinhos pobres? Cadê? E principalmente, onde esse pessoal tá arrumando dinheiro pra ficar comprando ovo de páscoa? Estão aceitando penhora de rim e/ou córnea e/ou fígado em algum lugar? É sério, tão aceitando?<br />
Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-4393976753229703232013-03-24T09:05:00.003-03:002013-03-24T09:05:56.981-03:00Camisa VermelhaEssa semana eu saí de casa com uma blusa vermelha. É a única roupa vermelha que eu tenho, uma blusinha velha e surrada de mangas, que é excelente para ir na padaria em dias de temperatura amena.<br />
Estava eu atravessando a passarela que tem perto da minha casa quando uma senhora de uns 60 anos que eu nunca vi na vida me parou e falou;<br />
"Você está linda com essa blusa."<br />
E eu lancei aquela cara de "o quê?".<br />
E ela: "é, deixou vc bonita, com as bochechas coradinhas."<br />
E eu toda sem graça: "ah, obrigada, rs"<br />
<br />
E agora, como faz pra tingir todas as minhas roupas de vermelho?Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5234731931474960156.post-74548136121992096852013-03-20T22:56:00.000-03:002013-03-20T23:01:05.244-03:00Pé de balas<br />
<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
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Em homenagem ao dia do contador de história, aí vai a história que minha mãe contou pra sua turminha de educação infantil hoje:<br />
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" Eu estava na rua e encontrei um papel de bala. Enterrei o papel de bala. Cresceu um pé de balas. Eu colhi as balas e vendi numa barraquinha de doces. Fiquei rica. Coloquei todo o dinheiro numa mala. Mas peguei um ônibus e esqueci minha mala de dinheiro nele. Fiquei pobre de novo."<br />
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- Vai trabalhar tia! - aluno da minha mãe que só tem 5 anos e ficou dando conselhos de vida a ela.<br />
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Qual parte da história não pode acontecer na vida real?<br />
...<br />
...<br />
Sim, a parte da pessoa rica aceitar o sofrimento de pegar ônibus.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img alt="http://3.bp.blogspot.com/_6D8DLcwIUwI/SwrmqNoyAmI/AAAAAAAABxw/9Qsl7kUGK6I/s1600/Natal+ilca+040.jpg" class="decoded" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/_6D8DLcwIUwI/SwrmqNoyAmI/AAAAAAAABxw/9Qsl7kUGK6I/s320/Natal+ilca+040.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="177" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">foto roubada de: http://trspedagogascomamor.blogspot.com.br/2009/11/saco-de-panetone-arvore-de-bala-bota-de.html</td></tr>
</tbody></table>
Luma Beatriz Perilhttp://www.blogger.com/profile/05682769667280022248noreply@blogger.com0