22 de novembro de 2010

Estou passando pelo período da minha vida que esperei por muitos anos. Estou passando por um momento melancólico.

Sempre esperei por essa época. Pelo fim desse novembro. Pelo início desse dezembro. Aguardei. Imaginei. Sonhei. É a época em que faço as três coisas que mais esperei, que mais desejei, e olha que irônico, mais temi.
Terminei o Ensino Médio na semana passada, fiz 18 anos ontem e estou gastando todos os meus fins de semana  prestando algum vestibular. Estou sem rumo. Acabou. Acabaram-se as certezas, a rotina garantida. Eu sabia que ia acabar. Eu sabia que um dia eu não ia mais ter que acordar pra colocar o uniforme e ir pra escola. E esse dia chegou. Eu sabia que um dia eu acordaria adulta. E esse dia chegou. Desculpe-me, mas é horrível. É incrivelmente horrível. Sempre fui mais independente que as outras meninas da minha idade e sempre fui mais, como dizer, "autônoma". Sempre fui uma menina que pensa como uma adulta, ou quem, sabe, uma avó, como disse Jéssica outro dia. Sim, uma avó, que é mais madura que uma mãe.

Mas agora aconteceu. Hoje eu acordei sendo adulta. Eu me olhei no espelho. Vi que agora minhas sobrancelhas são desenhadas e não mais naturais. Vi que meu cabelo estava escovado e não cacheado ou cheio de tranças. Vi que um machucadinho na testa, fruto de um cravo que inconscientemente tentei tirar de modo assassino, estava cicatrizando. Como as pessoas conseguem sobreviver no pós 18? 18. 18. Quando eu penso em "dezoito", uma dor profunda toma conta de mim. Eu quero voltar pra infância, pra escola, pro meu uniforme, minha mochila. Quero voltar a pedir para minha mãe assinar autorizações.

Como as pessoas comemoram os dezoito anos? Eu não consigo. Ontem parecia um dia frio pra mim, um dia frio como aqueles entre a briga e a reconciliação em uma comédia romântica. Horrível. Sei que terei de aprender a lidar com isso. Só não sei como.

E a escola? Quantas saudades vou sentir! Um ensino fundamental intenso. Nada de importante acontecia, mas eu me importava. É estranho, pois dizem que as crianças não têm problemas. Só Deus sabe o quanto fiquei nervosa por coisas bobas, como quando uma amiguinha da segunda série disse que meu colar era brega. Ou então quando eu fui parar na direção por querer fazer justiça. Sempre me preocupando com os outros. Com o que os outros sentiam, faziam, achavam de mim. Não liguei pra mim. Apaguei-me.

Pois só na oitava série, prestes a completar 15 anos, que passei a ver que a Luma existia. Que a Luma tinha que se preocupar com ela também, que a Luma tinha que passar a se olhar no espelho. Olhar no espelho. Quando criança, não me olhava no espelho. E, depois de um ano muito divertido, o ano onde mais cresci, tive de partir.
Partir para o Ensino Médio. Ensino Médio. Ensino Médio.

O Ensino Médio que conheci é completamente diferente do que imaginava. Meu Ensino Médio não foi o sonhado, não foi o desejado, não foi o temido. Meu Ensino Médio não foi simplesmtente o inesperado. Ele foi lindo. Lindo, a única definição que encontrei. Não fui um estereótipo de filme. Não fui popular. Não fui odiada (eu espero). Fui simplesmente feliz.

Minha escola não é como a de Malhação, como a de Meninas Malvadas. Não é como as novelas onde meninas ficam grávidas o tempo todo, ou onde as líderes de torcida saem com atletas e eles dominam o mundo. Definitivamente não é. Afinal, minha escola é o Colégio Pedro II. Mais que CPII, minha escola é CPII-Niterói.

O CPII tem 172 anos e foi fundada em homenagem ao futuro imperador Pedro II. Funcionou como referência de ensino no país, quando não existia Ministério da Educação, teve alunos famosos, como Álvares de Azevedo, Fernanda Montenegro, Fátima Bernardes, Lima Barreto, Oswaldo Cruz, Manuel Bandeira, Mário Lago; além dos presidentes da República Floriano Peixoto, Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Rodrigues Alves e Washington Luís. E, como nada é perfeito, Mr Catra.
Como professores contou com Aurélio (sim, o do dicionário), Joaquim Manuel de Macedo, Villa-Lobos, Euclides da Cunha, Gonçalves Dias(minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...).

Há cinco anos o CPII implantou uma unidade em Niterói. E é lá que passei a maior parte do meu tempo nos últimos anos. O CPII funciona num ciep ( que, talvez quem não é do RJ não conheça, mas é um tipo de prédio pra lá de ruim), mas tem um ensino de muita qualidade, professores fantásticos, alunos maravilhosos. Formamos um time impressionante. Impressionante de bom.

Apesar de tudo, o CPII é uma instituição pública, que como outras, sofre por culpa do "sistema". Mas vocês acham que a gente liga? Os alunos só ganharam merenda escolar há dois meses, depois de cinco anos pedindo muito. Entretanto, driblamos ao máximo os problemas. Nossos professores são workaholics, dando um monte de aulas extras sem ganhar mais por isso, são amigos, conversando com a gente. Que o diga Claudinha, professora de Biologia, de quem roubei um monte de recreios para que tirasse minhas dúvidas de questões de vestibular.
Com esse esforço, alcançamos, com a primeira turma de formandos, em 2008, o 7º lugar do munícípio no ENEM e, em 2009, com a segunda turma, a 4ª posição. Resta saber o que nós, turma de 2010, conseguiremos.

O CPII também abriga tudo quanto é tipo de aluno. Da mais patricinha a mais desarrumada, do filhinho de papai da zona sul ao filho de empregada doméstica que mora na periferia. E aqui, todo mundo é igual. Ninguém liga sobre qual a marca do seu tênis, já que só pode usar tênis totalmente preto, e quase todo mundo tem tênis da mesma marca (OLK colegial preto). Ninguém liga se você viajou nas últimas férias, se você vai naquele show cuja entrada custa 200 reais ou se você vai ficar em casa porque tá sem grana. Claro que nem todos são assim. Mas a maioria é. É claro que quem tem mais dinheiro acaba se enturmando com outro que tem, já que têm o mesmo padrão de vida, do mesmo jeito que acontece com os mais pobres. Mas nada que "rache" a escola.

Agora, o CPII, mais que isso tudo, tem carinho. Ao entrar na instituição, você já é recebido pelos cachorrinhos que a escola acabou adotando, e que todos nós tomamos conta. Você vai ver um gramadão verde, onde jovens de 17 anos brincam de pique pega. Sim, você leu certo. Jovens de 17 anos brincando de pique pega.
Você vai ver um prédio que, incrivelmente, parece estar sempre iluminando. É como se espíritos de luz o cercassem para garantir que todos ali sejam felizes. E são.





Simplesmente vou morrer de saudades.

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre,
sempre acaba"



p.s.: fotos roubadas dos perfis de alunos do cp2 nit no orkut, =D

3 comentários:

  1. Que lindo, Luma!
    Estou chorando... Hahahahahaha...
    Lindo texto.
    Também morrerei de saudades de tudo isso!
    Beeijos.

    ps.: as 3 primeiras fotos fui eu que tirei!

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  2. pois é Fran, roubei do seu orkut, pois já tinha visto a segunda foto no seu blog e imaginei que devia ter mais lá, rs =D

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  3. Lindo meeeesmo Luma! Estou realmente impressionada com tanto talento. O texto é lindo, e acho que também expressa muito do que estou sentindo. Tanto em relação ao colégio, como a essa parada de ter que ficar adulto. E esse trecho de música... costumo ouvir e lembro muito do CPII.
    Parabéns por todas essas maravilhas em forma de texto que você compartilha conosco e espero que agora, que finalmente ESTAMOS DE FÉRIAS:D , você escreva seeempre... porque se você terá tempo pra escrever, eu terei para ler o que você escreve! :D

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22 de novembro de 2010

Estou passando pelo período da minha vida que esperei por muitos anos. Estou passando por um momento melancólico.

Sempre esperei por essa época. Pelo fim desse novembro. Pelo início desse dezembro. Aguardei. Imaginei. Sonhei. É a época em que faço as três coisas que mais esperei, que mais desejei, e olha que irônico, mais temi.
Terminei o Ensino Médio na semana passada, fiz 18 anos ontem e estou gastando todos os meus fins de semana  prestando algum vestibular. Estou sem rumo. Acabou. Acabaram-se as certezas, a rotina garantida. Eu sabia que ia acabar. Eu sabia que um dia eu não ia mais ter que acordar pra colocar o uniforme e ir pra escola. E esse dia chegou. Eu sabia que um dia eu acordaria adulta. E esse dia chegou. Desculpe-me, mas é horrível. É incrivelmente horrível. Sempre fui mais independente que as outras meninas da minha idade e sempre fui mais, como dizer, "autônoma". Sempre fui uma menina que pensa como uma adulta, ou quem, sabe, uma avó, como disse Jéssica outro dia. Sim, uma avó, que é mais madura que uma mãe.

Mas agora aconteceu. Hoje eu acordei sendo adulta. Eu me olhei no espelho. Vi que agora minhas sobrancelhas são desenhadas e não mais naturais. Vi que meu cabelo estava escovado e não cacheado ou cheio de tranças. Vi que um machucadinho na testa, fruto de um cravo que inconscientemente tentei tirar de modo assassino, estava cicatrizando. Como as pessoas conseguem sobreviver no pós 18? 18. 18. Quando eu penso em "dezoito", uma dor profunda toma conta de mim. Eu quero voltar pra infância, pra escola, pro meu uniforme, minha mochila. Quero voltar a pedir para minha mãe assinar autorizações.

Como as pessoas comemoram os dezoito anos? Eu não consigo. Ontem parecia um dia frio pra mim, um dia frio como aqueles entre a briga e a reconciliação em uma comédia romântica. Horrível. Sei que terei de aprender a lidar com isso. Só não sei como.

E a escola? Quantas saudades vou sentir! Um ensino fundamental intenso. Nada de importante acontecia, mas eu me importava. É estranho, pois dizem que as crianças não têm problemas. Só Deus sabe o quanto fiquei nervosa por coisas bobas, como quando uma amiguinha da segunda série disse que meu colar era brega. Ou então quando eu fui parar na direção por querer fazer justiça. Sempre me preocupando com os outros. Com o que os outros sentiam, faziam, achavam de mim. Não liguei pra mim. Apaguei-me.

Pois só na oitava série, prestes a completar 15 anos, que passei a ver que a Luma existia. Que a Luma tinha que se preocupar com ela também, que a Luma tinha que passar a se olhar no espelho. Olhar no espelho. Quando criança, não me olhava no espelho. E, depois de um ano muito divertido, o ano onde mais cresci, tive de partir.
Partir para o Ensino Médio. Ensino Médio. Ensino Médio.

O Ensino Médio que conheci é completamente diferente do que imaginava. Meu Ensino Médio não foi o sonhado, não foi o desejado, não foi o temido. Meu Ensino Médio não foi simplesmtente o inesperado. Ele foi lindo. Lindo, a única definição que encontrei. Não fui um estereótipo de filme. Não fui popular. Não fui odiada (eu espero). Fui simplesmente feliz.

Minha escola não é como a de Malhação, como a de Meninas Malvadas. Não é como as novelas onde meninas ficam grávidas o tempo todo, ou onde as líderes de torcida saem com atletas e eles dominam o mundo. Definitivamente não é. Afinal, minha escola é o Colégio Pedro II. Mais que CPII, minha escola é CPII-Niterói.

O CPII tem 172 anos e foi fundada em homenagem ao futuro imperador Pedro II. Funcionou como referência de ensino no país, quando não existia Ministério da Educação, teve alunos famosos, como Álvares de Azevedo, Fernanda Montenegro, Fátima Bernardes, Lima Barreto, Oswaldo Cruz, Manuel Bandeira, Mário Lago; além dos presidentes da República Floriano Peixoto, Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Rodrigues Alves e Washington Luís. E, como nada é perfeito, Mr Catra.
Como professores contou com Aurélio (sim, o do dicionário), Joaquim Manuel de Macedo, Villa-Lobos, Euclides da Cunha, Gonçalves Dias(minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...).

Há cinco anos o CPII implantou uma unidade em Niterói. E é lá que passei a maior parte do meu tempo nos últimos anos. O CPII funciona num ciep ( que, talvez quem não é do RJ não conheça, mas é um tipo de prédio pra lá de ruim), mas tem um ensino de muita qualidade, professores fantásticos, alunos maravilhosos. Formamos um time impressionante. Impressionante de bom.

Apesar de tudo, o CPII é uma instituição pública, que como outras, sofre por culpa do "sistema". Mas vocês acham que a gente liga? Os alunos só ganharam merenda escolar há dois meses, depois de cinco anos pedindo muito. Entretanto, driblamos ao máximo os problemas. Nossos professores são workaholics, dando um monte de aulas extras sem ganhar mais por isso, são amigos, conversando com a gente. Que o diga Claudinha, professora de Biologia, de quem roubei um monte de recreios para que tirasse minhas dúvidas de questões de vestibular.
Com esse esforço, alcançamos, com a primeira turma de formandos, em 2008, o 7º lugar do munícípio no ENEM e, em 2009, com a segunda turma, a 4ª posição. Resta saber o que nós, turma de 2010, conseguiremos.

O CPII também abriga tudo quanto é tipo de aluno. Da mais patricinha a mais desarrumada, do filhinho de papai da zona sul ao filho de empregada doméstica que mora na periferia. E aqui, todo mundo é igual. Ninguém liga sobre qual a marca do seu tênis, já que só pode usar tênis totalmente preto, e quase todo mundo tem tênis da mesma marca (OLK colegial preto). Ninguém liga se você viajou nas últimas férias, se você vai naquele show cuja entrada custa 200 reais ou se você vai ficar em casa porque tá sem grana. Claro que nem todos são assim. Mas a maioria é. É claro que quem tem mais dinheiro acaba se enturmando com outro que tem, já que têm o mesmo padrão de vida, do mesmo jeito que acontece com os mais pobres. Mas nada que "rache" a escola.

Agora, o CPII, mais que isso tudo, tem carinho. Ao entrar na instituição, você já é recebido pelos cachorrinhos que a escola acabou adotando, e que todos nós tomamos conta. Você vai ver um gramadão verde, onde jovens de 17 anos brincam de pique pega. Sim, você leu certo. Jovens de 17 anos brincando de pique pega.
Você vai ver um prédio que, incrivelmente, parece estar sempre iluminando. É como se espíritos de luz o cercassem para garantir que todos ali sejam felizes. E são.





Simplesmente vou morrer de saudades.

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre,
sempre acaba"



p.s.: fotos roubadas dos perfis de alunos do cp2 nit no orkut, =D

3 comentários:

  1. Que lindo, Luma!
    Estou chorando... Hahahahahaha...
    Lindo texto.
    Também morrerei de saudades de tudo isso!
    Beeijos.

    ps.: as 3 primeiras fotos fui eu que tirei!

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  2. pois é Fran, roubei do seu orkut, pois já tinha visto a segunda foto no seu blog e imaginei que devia ter mais lá, rs =D

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  3. Lindo meeeesmo Luma! Estou realmente impressionada com tanto talento. O texto é lindo, e acho que também expressa muito do que estou sentindo. Tanto em relação ao colégio, como a essa parada de ter que ficar adulto. E esse trecho de música... costumo ouvir e lembro muito do CPII.
    Parabéns por todas essas maravilhas em forma de texto que você compartilha conosco e espero que agora, que finalmente ESTAMOS DE FÉRIAS:D , você escreva seeempre... porque se você terá tempo pra escrever, eu terei para ler o que você escreve! :D

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