27 de maio de 2014

Trinta mil

ACABEI DE VER QUE CONSEGUI MAIS DE 30 MIL VISUALIZAÇÕES DE PÁGINA!
Muito obrigada, mesmo!
Eu não posto quase nada quase nunca, mas vou me esforçar porque 30 mil visualizações merecem um novo post!

E sobre o quê postar? 

Pensei por alguns instantes e resolvi falar sobre o seu Tadeu*, um paciente que eu e alguns amigos tivemos no ano passado.No segundo semestre de 2013, durante o sexto periodo da faculdade, nossa turma foi organizada em grupos e cada grupo acompanhava a rotina de uma enfermaria do hospital. O meu grupo ficou em uma enfermaria masculina da clínica médica, a mesma onde João* esteve internado. Na divisão dos alunos entre os leitos, antes de conhecermos os pacientes, já houve o receio de quem ficaria com o leito 2. O paciente do leito 2 não falava e tinha seus movimentos comprometidos. Dois meninos ficaram responsáveis pelo leito 2.

O primeiro dia foi muito complicado, como eu observei do leito 3 e os meus colegas me relataram mais tarde. A comunicação parecia impossível. Ele apontava para o braço e ninguem entendia ao certo. Seu Tadeu havia sofrido um acidente vascular cerebral bastante extenso 2 meses antes. As sessões de fono e fisioterapia eram diárias.

Conforme os dias foram passando, começamos a perceber as coisas que seu Tadeu queria dizer. O modo como apontava, as expressões faciais. Entretanto, nos primeiros dias eu achava que seu Tadeu ia demorar muito tempo ainda no hospital. Muito tempo mesmo, muitos meses, talvez anos. Talvez nunca tivesse alta. E eu me sentia péssima por ser tão negativa em meus pensamentos.

Mas, graças a Deus, a força de vontade de seu Tadeu, o maravilhoso trabalho de toda a equipe que o assistia, eu estava errada. Algumas semanas depois, começaram os avanços. Seu Tadeu já sentava com apoio na cama. A notícia se espalhou pelo hospital. em todo o corredor do nono andar só se falava de sua melhora, de seu avanço. Mas nada foi tão emocionante quanto a manhã em que estávamos em outra enfermaria quando uma médica residente chegou exclamando "Seu Tadeu está falando!"

Todos corremos para o leito de seu Tadeu. Ao que a fonoaudióloga cobriu a traqueostomia, ele desatou a falar.
"O senhor sabe o seu nome?" - perguntou a professora.
E seu Tadeu respondeu seu nome completo sem pensar muito. Em seguida vieram perguntas de localização no tempo e no espaço e ele estava super consciente. Suas confusões eram insignificantes para alguém que estava internado há quase quatro meses.
Nos dias seguintes, ele recuperou alguns dos movimentos e aprendeu a cobrir a própria traqueostomia para falar. E como falava! Seu Tadeu falava de tudo. Comentava sobre sua família, discursava sobre sua neta, sua esposa, a história de sua vida e principalmente, elogiava as alunas e as médicas. Um dia virou pra mim e disse : "Você é a médica mais bonita desse hospital. Como você é bonita!". Penso para quantas alunas ele falou isso. Como ele gostava de nos elogiar. E falava dos meninos também. Certa vez virou para Diego, meu colega de turma e falou que ele era um menino muito "galante". Que quando ele ficasse bom iria viajar para Cruz das Almas com ele, e que lhe arrumaria uma namorada. Mas depois exclamou: "mas lá em Cruz das Almas vai ser mais difícil arrumar namorada, as meninas são tudo crente".

A melhora de seu Tadeu foi progressiva. E foi assim que no final de setembro de 2013 seu Tadeu recebeu alta. É claro que ele não era o mesmo de antes. Ele provavelmente não iria mais andar, e as chances de trocar a gastrostomia por alimentação via oral eram poucas. Mas como ele estava feliz. No dia de sua alta foi a primeira vez em que o vi sem as vestes do hospital, mas sim com suas vestes pessoais. Sua esposa e a tão amada neta estavam lá. Foi uma comoção geral. Todos os alunos e médicos do setor já estavam apegados a ele, assim como os enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogas.

O seu Tadeu foi muito marcante na vida de todos nós. Seu bom humor, sua disposição em melhorar, e o quanto sua melhora me fez acreditar mais que coisas antes incríveis se tornem possíveis fizeram de mim uma Luma muito melhor. Muito obrigada, Seu Tadeu.

* nome fictício

Os acidentes vasculares cerebrais (vulgos AVC, AVE, derrame etc) acometem muitas pessoas no mundo todo. Estão entre as principais causas de morte e morbidade (piora na qualidade de vida) em todo o mundo. Pacientes com hipertensão, diabetes, dislipidemia (colesterol elevado por exemplo) e tabagistas têm maiores chances de ter um AVE qua a população em geral. Por isso, as pessoas que têm essas doenças devem mante-las sob controle, tomar os medicamentos, seguir dieta, fazer exercício.

Abaixo, alguns links do Ministério da Saúde com maiores informações sobre o assunto:
http://www.avozdaserra.com.br/noticia/25130/avc-ministerio-da-saude--alerta-para-sinais-da-doenca
http://www.blog.saude.gov.br/index.php/saudeemdia/32001-identificar-sintomas-iniciais-do-avc-e-decisivo-para-o-tratamento

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27 de maio de 2014

Trinta mil

ACABEI DE VER QUE CONSEGUI MAIS DE 30 MIL VISUALIZAÇÕES DE PÁGINA!
Muito obrigada, mesmo!
Eu não posto quase nada quase nunca, mas vou me esforçar porque 30 mil visualizações merecem um novo post!

E sobre o quê postar? 

Pensei por alguns instantes e resolvi falar sobre o seu Tadeu*, um paciente que eu e alguns amigos tivemos no ano passado.No segundo semestre de 2013, durante o sexto periodo da faculdade, nossa turma foi organizada em grupos e cada grupo acompanhava a rotina de uma enfermaria do hospital. O meu grupo ficou em uma enfermaria masculina da clínica médica, a mesma onde João* esteve internado. Na divisão dos alunos entre os leitos, antes de conhecermos os pacientes, já houve o receio de quem ficaria com o leito 2. O paciente do leito 2 não falava e tinha seus movimentos comprometidos. Dois meninos ficaram responsáveis pelo leito 2.

O primeiro dia foi muito complicado, como eu observei do leito 3 e os meus colegas me relataram mais tarde. A comunicação parecia impossível. Ele apontava para o braço e ninguem entendia ao certo. Seu Tadeu havia sofrido um acidente vascular cerebral bastante extenso 2 meses antes. As sessões de fono e fisioterapia eram diárias.

Conforme os dias foram passando, começamos a perceber as coisas que seu Tadeu queria dizer. O modo como apontava, as expressões faciais. Entretanto, nos primeiros dias eu achava que seu Tadeu ia demorar muito tempo ainda no hospital. Muito tempo mesmo, muitos meses, talvez anos. Talvez nunca tivesse alta. E eu me sentia péssima por ser tão negativa em meus pensamentos.

Mas, graças a Deus, a força de vontade de seu Tadeu, o maravilhoso trabalho de toda a equipe que o assistia, eu estava errada. Algumas semanas depois, começaram os avanços. Seu Tadeu já sentava com apoio na cama. A notícia se espalhou pelo hospital. em todo o corredor do nono andar só se falava de sua melhora, de seu avanço. Mas nada foi tão emocionante quanto a manhã em que estávamos em outra enfermaria quando uma médica residente chegou exclamando "Seu Tadeu está falando!"

Todos corremos para o leito de seu Tadeu. Ao que a fonoaudióloga cobriu a traqueostomia, ele desatou a falar.
"O senhor sabe o seu nome?" - perguntou a professora.
E seu Tadeu respondeu seu nome completo sem pensar muito. Em seguida vieram perguntas de localização no tempo e no espaço e ele estava super consciente. Suas confusões eram insignificantes para alguém que estava internado há quase quatro meses.
Nos dias seguintes, ele recuperou alguns dos movimentos e aprendeu a cobrir a própria traqueostomia para falar. E como falava! Seu Tadeu falava de tudo. Comentava sobre sua família, discursava sobre sua neta, sua esposa, a história de sua vida e principalmente, elogiava as alunas e as médicas. Um dia virou pra mim e disse : "Você é a médica mais bonita desse hospital. Como você é bonita!". Penso para quantas alunas ele falou isso. Como ele gostava de nos elogiar. E falava dos meninos também. Certa vez virou para Diego, meu colega de turma e falou que ele era um menino muito "galante". Que quando ele ficasse bom iria viajar para Cruz das Almas com ele, e que lhe arrumaria uma namorada. Mas depois exclamou: "mas lá em Cruz das Almas vai ser mais difícil arrumar namorada, as meninas são tudo crente".

A melhora de seu Tadeu foi progressiva. E foi assim que no final de setembro de 2013 seu Tadeu recebeu alta. É claro que ele não era o mesmo de antes. Ele provavelmente não iria mais andar, e as chances de trocar a gastrostomia por alimentação via oral eram poucas. Mas como ele estava feliz. No dia de sua alta foi a primeira vez em que o vi sem as vestes do hospital, mas sim com suas vestes pessoais. Sua esposa e a tão amada neta estavam lá. Foi uma comoção geral. Todos os alunos e médicos do setor já estavam apegados a ele, assim como os enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogas.

O seu Tadeu foi muito marcante na vida de todos nós. Seu bom humor, sua disposição em melhorar, e o quanto sua melhora me fez acreditar mais que coisas antes incríveis se tornem possíveis fizeram de mim uma Luma muito melhor. Muito obrigada, Seu Tadeu.

* nome fictício

Os acidentes vasculares cerebrais (vulgos AVC, AVE, derrame etc) acometem muitas pessoas no mundo todo. Estão entre as principais causas de morte e morbidade (piora na qualidade de vida) em todo o mundo. Pacientes com hipertensão, diabetes, dislipidemia (colesterol elevado por exemplo) e tabagistas têm maiores chances de ter um AVE qua a população em geral. Por isso, as pessoas que têm essas doenças devem mante-las sob controle, tomar os medicamentos, seguir dieta, fazer exercício.

Abaixo, alguns links do Ministério da Saúde com maiores informações sobre o assunto:
http://www.avozdaserra.com.br/noticia/25130/avc-ministerio-da-saude--alerta-para-sinais-da-doenca
http://www.blog.saude.gov.br/index.php/saudeemdia/32001-identificar-sintomas-iniciais-do-avc-e-decisivo-para-o-tratamento

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