5 de janeiro de 2010

Diário de Patrícia - I

Gente, comecei a escrever o meu conto de janeiro, O Diário de Patrícia.

Patrícia é meio doidinha, que nem eu. fala uns 500 "tipos" por dia. Mas ela também é legal. Acho que dá pra gostar dela.

Aí vai a primeira parte:


“Diário de Patrícia Gomes de Souza, nascida em Maricá-RJ”


Segunda feira, 20 de abril.


É, acho que tá bom pra identificação do meu diário. Porque, tipo assim, deve existir zilhões de Patrícias Gomes de Souza. Mas aqui em Maricá e tendo 15 anos eu acho que só tem eu. Eu acho.


Antes de tudo, quero esclarecer a minha vontade repentina de escrever um diário. Não é porque eu li O Diário da Princesa semana passada. Eu nem tava a fim de ler. Cecília que ficou me chateando: “Lê, lê, lê logo.” Bem, a Cecília é, tipo, a minha amiga da escola. Acho que a gente tem potencial de ser melhor amiga um dia. Mas o lance é que, tipo, a gente só se conhece há pouco mais de um mês então não dá pra avaliar direito. Pelo menos eu acho.


O que me leva a escrever aqui é que Cecília está me chateando pra ler O Diário de Anne Frank. Eu fico pensando por que as pessoas adoram publicar livros de diários. Porque eu não sei se a Anne Frank ia gostar muito que publicassem o diário dela. Mas foi só ela morrer que fizeram isso. Cecília me disse que assim que ela terminar de ler O Diário de Anne Frank vai me emprestar. Eu estou achando que alguém precisa dar um toque nela. Não é porque ela lê pra caramba que todo mundo é assim. Eu, por exemplo, prefiro pegar um filme na locadora e devorar uma pipoca de microondas. Quando Cecília vai entender que ver um filme com pipoca de microondas é melhor que ler um livro? Fala sério.


Bem, mas como eu ainda não esclareci, vou esclarecer agora. É que eu quero ser famosa um dia. E como eu não nasci pra cantar, não posso ser modelo – eu sou baixinha –, e não tenho nenhum talento especial, eu posso escrever um diário. Quero dizer, se alienígenas invadirem a terra e me matarem, eles vão poder achar meu diário e ele vai ser um sucesso literário. Que nem O Diário de Anne Frank. E aí eu vou ser famosa. Pena que eu já vou estar morta. Mas tudo bem.


Ai, droga, Cris já tá me chamando. Peraí que eu já volto.


Pronto, voltei. Cris queria perguntar que tipo de pizza eu queria pedir. Na boa, a minha madrasta não é normal. Onde já se viu pedir uma pizza em plena segunda-feira? Uma pessoa normal pediria na sexta, no sábado ou no domingo. Também, que pessoa normal casaria com o meu pai? Só uma doida feito a Cris mesmo. Ou a mamãe.


Mas mamãe era realmente, realmente meio maluquinha. Ela me dizia que o maior objetivo que alguém pode ter na vida é ser famosa. Mamãe queria ser igual a Madonna. Pobre mamãe. O mais famosa que ela conseguiu ser foi quando conseguiu ser presidente do grêmio estudantil no segundo grau. Não que ela tivesse espírito de liderança. Era porque ela queria chamar a atenção do tio Mauro, irmão de papai, que estudava com ela. E até que mamãe se saiu bem. Porque ela ficou amiga de tio Mauro e antes que ela conseguisse ficar com ele, ela conheceu papai, que é irmão mais velho de tio Mauro, e se apaixonou por ele. E casou com ele. Detalhe: minha mãe só tinha dezessete anos.


Depois que mamãe morreu, eu fiquei pensando onde papai ia arrumar outra pessoa doida o suficiente pra ficar com ele. E ele conheceu Cris. Adivinha como? Cris era amiga de tio Mauro. Sim, meu caro, qualquer semelhança não é mera coincidência. Porque só o tio Mauro pra conhecer tanta gente doida. Bem, pra você ter idéia, Cris é formada em publicidade e recursos humanos mas dá aulas de música. Como eu disse, Cris não é normal. Porque você fazer duas faculdades e não usá-las pra nada definitivamente não é coisa de gente normal.


Quero dizer, olhe papai. Depois de se formar em administração e trabalhar numa grande empresa por quase dez anos, ele pede demissão e compra um táxi. Porque ele não agüenta mais receber ordens de um patrão chato.


Como eu posso ter saído normal filha de um pai desses e de uma mãe doida? E ainda, pra completar, papai casa de novo com outra mulher tão doida – ou mais – que mamãe.


Agora mais um doido ou doida tá vindo por aí. É que Cris tá grávida. Deus queira que essa criança venha normal, tipo, eu.


Ótimo, fiquei tanto me explicando que nem contei meu dia. Mas eu to muito cansada, acabei de chegar em casa.  Amanhã eu conto sobre o meu dia, porque, tipo assim, um dia a mais e outro a menos não faz muita diferença. Pelo menos eu acho.

Um comentário:


5 de janeiro de 2010

Diário de Patrícia - I

Gente, comecei a escrever o meu conto de janeiro, O Diário de Patrícia.

Patrícia é meio doidinha, que nem eu. fala uns 500 "tipos" por dia. Mas ela também é legal. Acho que dá pra gostar dela.

Aí vai a primeira parte:


“Diário de Patrícia Gomes de Souza, nascida em Maricá-RJ”


Segunda feira, 20 de abril.


É, acho que tá bom pra identificação do meu diário. Porque, tipo assim, deve existir zilhões de Patrícias Gomes de Souza. Mas aqui em Maricá e tendo 15 anos eu acho que só tem eu. Eu acho.


Antes de tudo, quero esclarecer a minha vontade repentina de escrever um diário. Não é porque eu li O Diário da Princesa semana passada. Eu nem tava a fim de ler. Cecília que ficou me chateando: “Lê, lê, lê logo.” Bem, a Cecília é, tipo, a minha amiga da escola. Acho que a gente tem potencial de ser melhor amiga um dia. Mas o lance é que, tipo, a gente só se conhece há pouco mais de um mês então não dá pra avaliar direito. Pelo menos eu acho.


O que me leva a escrever aqui é que Cecília está me chateando pra ler O Diário de Anne Frank. Eu fico pensando por que as pessoas adoram publicar livros de diários. Porque eu não sei se a Anne Frank ia gostar muito que publicassem o diário dela. Mas foi só ela morrer que fizeram isso. Cecília me disse que assim que ela terminar de ler O Diário de Anne Frank vai me emprestar. Eu estou achando que alguém precisa dar um toque nela. Não é porque ela lê pra caramba que todo mundo é assim. Eu, por exemplo, prefiro pegar um filme na locadora e devorar uma pipoca de microondas. Quando Cecília vai entender que ver um filme com pipoca de microondas é melhor que ler um livro? Fala sério.


Bem, mas como eu ainda não esclareci, vou esclarecer agora. É que eu quero ser famosa um dia. E como eu não nasci pra cantar, não posso ser modelo – eu sou baixinha –, e não tenho nenhum talento especial, eu posso escrever um diário. Quero dizer, se alienígenas invadirem a terra e me matarem, eles vão poder achar meu diário e ele vai ser um sucesso literário. Que nem O Diário de Anne Frank. E aí eu vou ser famosa. Pena que eu já vou estar morta. Mas tudo bem.


Ai, droga, Cris já tá me chamando. Peraí que eu já volto.


Pronto, voltei. Cris queria perguntar que tipo de pizza eu queria pedir. Na boa, a minha madrasta não é normal. Onde já se viu pedir uma pizza em plena segunda-feira? Uma pessoa normal pediria na sexta, no sábado ou no domingo. Também, que pessoa normal casaria com o meu pai? Só uma doida feito a Cris mesmo. Ou a mamãe.


Mas mamãe era realmente, realmente meio maluquinha. Ela me dizia que o maior objetivo que alguém pode ter na vida é ser famosa. Mamãe queria ser igual a Madonna. Pobre mamãe. O mais famosa que ela conseguiu ser foi quando conseguiu ser presidente do grêmio estudantil no segundo grau. Não que ela tivesse espírito de liderança. Era porque ela queria chamar a atenção do tio Mauro, irmão de papai, que estudava com ela. E até que mamãe se saiu bem. Porque ela ficou amiga de tio Mauro e antes que ela conseguisse ficar com ele, ela conheceu papai, que é irmão mais velho de tio Mauro, e se apaixonou por ele. E casou com ele. Detalhe: minha mãe só tinha dezessete anos.


Depois que mamãe morreu, eu fiquei pensando onde papai ia arrumar outra pessoa doida o suficiente pra ficar com ele. E ele conheceu Cris. Adivinha como? Cris era amiga de tio Mauro. Sim, meu caro, qualquer semelhança não é mera coincidência. Porque só o tio Mauro pra conhecer tanta gente doida. Bem, pra você ter idéia, Cris é formada em publicidade e recursos humanos mas dá aulas de música. Como eu disse, Cris não é normal. Porque você fazer duas faculdades e não usá-las pra nada definitivamente não é coisa de gente normal.


Quero dizer, olhe papai. Depois de se formar em administração e trabalhar numa grande empresa por quase dez anos, ele pede demissão e compra um táxi. Porque ele não agüenta mais receber ordens de um patrão chato.


Como eu posso ter saído normal filha de um pai desses e de uma mãe doida? E ainda, pra completar, papai casa de novo com outra mulher tão doida – ou mais – que mamãe.


Agora mais um doido ou doida tá vindo por aí. É que Cris tá grávida. Deus queira que essa criança venha normal, tipo, eu.


Ótimo, fiquei tanto me explicando que nem contei meu dia. Mas eu to muito cansada, acabei de chegar em casa.  Amanhã eu conto sobre o meu dia, porque, tipo assim, um dia a mais e outro a menos não faz muita diferença. Pelo menos eu acho.

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